Por Isabelle Brenda
Em 1888, uma grande seca assolou a Baixada Fluminense e a Corte Imperial também ficou sem água. Preocupado, o imperador Pedro II procurou propostas para diminuir os efeitos dessa estiagem. O projeto que agradou a ele foi o do engenheiro Paulo de Frontin. O plano era ousado e propunha captar 15 milhões de litros d’água em apenas seis dias que iriam direto para a Corte. Tal façanha ficou conhecida como “Milagre das Águas”.
O idealizador dessa proeza, Paulo de Frontin, tinha um grande amigo e colaborador, o engenheiro maranhense Raimundo Teixeira Belfort Roxo. O amigo ajudou muito nesse projeto e trabalhou a serviço dessas obras de abastecimento de água para o Rio de Janeiro. Um ano após o feito, o engenheiro Belfort Roxo faleceu e como homenagem póstuma, seu nome foi dado à antiga Fazenda do Brejo, por onde passavam os trilhos da Estrada de Ferro Rio d’Ouro e a água encanada que alimentou durante décadas o Rio de Janeiro.
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Nas homenagens póstumas o sobrenome do engenheiro passou a ser grifado com a letra D, Belford.
No dia 3 de abril de 2024 a cidade de Belford Roxo comemora mais um ano de emancipação. Essa importante data destaca a história da cidade e é lembrada por todos os moradores em um sempre bem-vindo feriado municipal.
Conhecendo a História de Bel
Vocês já devem ter percebido, pelas leituras dos meus artigos aqui do BRAVA BAIXADA, que as terras das redondezas da cidade do Rio de Janeiro eram, muitas vezes, engenhos e grandes fazendas, essenciais para o transporte e extração de recursos para o abastecimento da antiga capital. Belford Roxo não é diferente, vide a história do início da nossa conversa.
É possível que vejamos, ainda hoje, as ruínas da Fazenda do Brejo, apesar de ser muito importante para a memória da cidade de Belford Roxo e da Baixada Fluminense, ela não é tombada pelos órgãos de preservação do patrimônio. Fica a dica!
A primeira demarcação do Engenho do Brejo é de 1638, de propriedade da família Guarda Muniz. Incluída na Freguesia de Santo Antônio de Jacutinga, a propriedade foi proveniente de um desmembramento do engenho de Santo Antônio e era produtora de açúcar com a posse de pessoas escravizadas.
Em 1770, no relatório do Marquês do Lavradio, o engenho foi registrado sob posse de Apolinário Maciel da Costa e seu irmão, o padre Antônio Maciel da Costa, filhos de Dona Páscoa e Cristóvão, antigos proprietários. Nessa época, a produção do engenho já era a terceira maior da Freguesia do Jacutinga, o que trouxe relevância ao local.
No ano de 1815, as terras passaram a pertencer a Manuel José Coelho da Rocha, e a propriedade ficou com sua família durante algumas gerações. Essa família foi responsável por fazer diversos avanços na infraestrutura do local que já tomava a forma de vila. Aos poucos, as terras foram loteadas.
Atualmente, o remanescente, onde está localizada a fazenda, foi incorporado à propriedade da Universidade da Associação Brasileira de Ensino Universitário – UNIABEU, concedida pela trineta de Manuel José Coelho da Rocha, Dona Altair Coelho da Rocha Denys.
O município de Belford Roxo
O termo “Brejo” denominou a cidade por muito tempo, e isso se justifica pois a vegetação e tipo de solos predominantes na região eram brejos e pântanos.
Em 1816 a estrada de ferro Rio D’Ouro atravessou o engenho do Brejo em terras cedidas pelo comendador Coelho da Rocha. A finalidade era permitir a colocação dos tubos de ferro em busca de água nas nascentes do Rio São Pedro, em Tinguá e em Xerém. Na sede da estação, foi criado um registro central, que teve como chefe da 1ª Divisão de Águas o engenheiro Raimundo Teixeira Belford Roxo.
Em junho de 1931, o então distrito de Belford Roxo recebe uma visita ilustre: Getúlio Vargas vinha de Nilópolis e parou na praça central da região. Como era um presidente muito querido à época, recebeu a vocação popular e sua partida foi ao som de uma banda de música.
A partir da década de 1940 o distrito, ainda pertencente a Nova Iguaçu, experimentou um grande crescimento urbano. Nos anos 1980 surgiu o desejo de emancipar-se.
Em 12 de janeiro de 1988, foi realizado um plebiscito para consultar a população do então distrito para a criação do novo município. Após uma série de controvérsias sobre a legitimidade, a Justiça Eleitoral deu parecer favorável e, no dia 3 de abril de 1990, a Lei Estadual n°1640 foi aprovada e Belford Roxo foi desmembrada de Nova Iguaçu.
No dia 1º de Janeiro de 1993, a cidade empossou seu primeiro prefeito, Jorge Júlio da Costa dos Santos, o “Joca”. Até o ano de 2018, o dia 20 de junho, dia do falecimento do prefeito Joca, era feriado municipal na cidade.
Bica da Mulata – Uma estátua intrigante
Bica da Mulata é uma estátua de ferro fundida na famosa fundição Val d’Osne. Essa foi uma das 182 esculturas trazidas por Dom Pedro II da França. A Deusa das Águas, a musa grega Euterpe, foi escolhida para lembrar o “Milagre das Águas” e também o início do fornecimento de água potável no município.
A estátua foi instalada na Praça Getúlio Vargas, no centro da cidade, em 1995. Era um verdadeiro ponto turístico, muito querido pelos moradores. Com a revitalização da rotatória da Bayer e o serviço de paisagismo, recentemente, o monumento foi colocado na rotatória com um chafariz, o novo local conta com proteção ambiental, mas a escolha foi muito questionada pelos moradores.
Belford Roxo hoje
No último Censo Demográfico realizado pelo IBGE, a cidade registrou uma população de 433.087 habitantes. O município está inserido na Baixada Fluminense e faz parte da região metropolitana do Rio de Janeiro, fazendo divisa com os municípios de Nova Iguaçu, Mesquita, São João de Meriti e Duque de Caxias. Em 2022, a área do município era de 78,985 km², o que o coloca na posição 84 de 92 entre os municípios do estado e 5324 de 5570 entre todos os municípios do Brasil.
Parabéns, Belford Roxo!
Fontes:
https://pantheon.ufrj.br/bitstream/11422/19606/1/WNAssis.pdf
IBGE
Isabelle Brenda é nascida e criada em Duque de Caxias. Formada em História pela UFRJ, pesquisa sobre História da Imprensa no Rio de Janeiro no século XX. Atualmente, trabalha como supervisora de pesquisa no IBGE.
