Por Isabelle Brenda
O Censo Demográfico 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) fez, pela primeira vez, um levantamento dos territórios e da população quilombola do país. São ao todo 1.696 municípios com moradores quilombolas, cerca de 30% dos 5.570 existentes em território nacional, totalizando 1,3 milhão de pessoas (0,64% dos 203,1 milhões de habitantes). Na Baixada Fluminense, cinco municípios registraram moradores que se autodenominaram quilombolas.
O destaque é para Magé, com 2.209 quilombolas, seguido por Belford Roxo, com 134, e Nova Iguaçu, com 107, e Guapimirim, com 28, e Mesquita, com 25.
Pioneirismo no Censo 2022
Definidas pelo Decreto 4.887/2003 como “grupos étnicos, segundo critérios de autoatribuição com trajetória histórica própria, dotados de relações territoriais específicas com presunção de ancestralidade negra relacionada com a resistência à opressão historicamente sofrida”, as comunidades quilombolas são retratadas pela primeira vez no Censo Demográfico 2022. Foram feitas as seguintes perguntas específicas “Você se considera quilombola?” e “Qual o nome da sua comunidade?”.

Origens históricas dos Quilombos
Os quilombos foram um dos grandes símbolos da resistência dos escravizados no Brasil, surgiram como refúgios para negros que escapavam do horror da escravidão. Como a função era de esconderijo, geralmente eram escolhidos locais de difícil acesso (digo geralmente, pois até na Lagoa Rodrigo de Freitas e no Leblon existiam quilombos). No entanto, os que tiveram vida-longa geralmente estavam situados em áreas rurais.
Os moradores dessas áreas são chamados de quilombolas. Depois da abolição da escravidão, muitos moradores decidiram continuar nos povoados que formaram, e com a Constituição Federal de 1988, ganharam direito a propriedade das terras que estavam.
O quilombo mais conhecido foi o de Quilombo de Palmares, ele se situava na Serra da Barriga, atual região do Alagoas e chegou a reunir 20 mil habitantes. Foi destruído em 1694 e seu líder, Zumbi, foi morto em uma emboscada. Você certamente já deve ter visto a estátua de Zumbi dos Palmares no calçadão de Duque de Caxias, certo?

Magé tem o único quilombo reconhecido na Baixada Fluminense
O Quilombo Maria Conga é reconhecido desde 2007 pela Fundação Cultural Palmares como comunidade remanescente de quilombo. Ele foi fundado por Maria Conga, nascida em 1792, ela fazia parte da nobreza no continente africano, foi sequestrada e embarcada pelo porto do atual Congo. Quando chegou ao Brasil, por volta de 1804, foi vendida para um fazendeiro em Salvador e foi rebatizada como Maria da Conceição.
Aos 18 anos, Maria Conga foi vendida novamente e chega a Magé. Aos 24 anos, passa por uma mudança de “dono” e permanece trabalhando por mais 11 anos até ser alforriada. A partir desse evento, Maria Conga passa a ser a referência na ação de liberdade de escravizados e funda o Quilombo Maria Congo. Ela foi declarada oficialmente heroína de Magé, em 1988, no centenário da Abolição. Em 2021, Maria Conga foi homenageada com um busto no Píer da Piedade, em Magé, local que desembarcaram diversos escravizados no passado.

É muito importante a produção de estatísticas públicas sobre esse grupo minoritário, pois, somente após 135 anos de abolição da escravidão, temos dados específicos sobre quantos quilombolas são, onde estão e como vivem. Os dados do Censo Demográfico produzem informações imprescindíveis para a definição de políticas públicas. Além dos dados estatísticos, o Censo Demográfico também revela uma característica da nossa história que muitas vezes esquecemos: a diversidade da população brasileira.
Bibliografia:
Censo Demográfico 2022: quilombolas: primeiros resultados do universo / IBGE (2023)

Isabelle Brenda é nascida e criada em Duque de Caxias. Formada em História pela UFRJ, pesquisa sobre História da Imprensa no Rio de Janeiro no século XX. Atualmente, trabalha como supervisora de pesquisa no IBGE.
Te que identificar ágora o quilombo do ou da bumba, as margens d baía de Guanabara…