Entre Guapimirim, Magé e Itaboraí, na Baixada Fluminense, um pedaço raro de natureza resiste ao tempo, ao descaso e à poluição: o Pantanal Fluminense. A área abriga um dos maiores trechos contínuos de manguezal do Sudeste e é lar de uma biodiversidade surpreendente, com espécies como capivaras, jacarés-de-papo-amarelo, lontras, botos-cinza, biguás, colhereiros-rosa e uma rica vegetação de mangue.
Apesar do nome, o Pantanal Fluminense não é um pantanal como o do Centro-Oeste, mas sim um complexo de rios, canais e manguezais que, vistos de cima, lembram a estética pantaneira. O território é protegido desde 1984 pela Área de Proteção Ambiental (APA) de Guapimirim, a primeira unidade de conservação do Brasil criada exclusivamente para preservar os mangues. Com cerca de 14 mil hectares, a APA abriga três rios fundamentais para a Baía de Guanabara, o Guapimirim, o Guapiaçu e o Macacu, sendo este último responsável por quase 40% das águas de boa qualidade que chegam à baía.

Em 2006, parte dessa área foi transformada na Estação Ecológica da Guanabara, sob gestão do ICMBio, para garantir proteção mais rigorosa à fauna, à flora e às comunidades tradicionais que vivem da pesca artesanal e da coleta de caranguejos.
Além da importância ambiental, o Pantanal Fluminense é um exemplo de resistência comunitária. Cerca de 400 famílias vivem diretamente dos recursos do mangue, por meio da pesca, do turismo de base comunitária e até da produção de mel retirado da vegetação local. Muitos pescadores, capacitados pela Capitania dos Portos, hoje atuam como guias em passeios de barco pelos rios da APA. As rotas incluem observação de botos, visita às ruínas de antigas olarias e contato com as práticas culturais das comunidades ribeirinhas. É possível agendar essas visitas com os próprios guias locais, que compartilham seus saberes tradicionais e reforçam a importância da preservação.

Projetos como o Guardiões do Mar, com apoio da Petrobras Socioambiental e da Cooperativa Manguezal Fluminense, já plantaram mais de 64 mil mudas e recuperaram 182 mil m² de áreas degradadas. Entre 2018 e 2021, mais de 30 toneladas de lixo foram retiradas da região. Outro destaque é o Projeto Uçá, que promove a conservação do caranguejo-uçá, espécie essencial para o equilíbrio ecológico e para a cultura alimentar da região.
O trabalho de preservação também tem sido reforçado nas redes sociais. Pelo perfil @apaguapimirim, a equipe da APA compartilha informações educativas, orientações ao público, contatos úteis e recebe denúncias de atos ilegais, como pesca predatória ou descarte de resíduos no manguezal. O canal tem se tornado uma ponte importante entre os moradores da região, os visitantes e os gestores da unidade de conservação.

Em um cenário onde a degradação ambiental avança de forma alarmante, o Pantanal Fluminense se impõe como um símbolo de resistência e esperança. Preservar esse território é também valorizar a história e a identidade da Baixada Fluminense. O que antes era visto como zona degradada da Baía de Guanabara, hoje é reconhecido como um dos principais redutos de biodiversidade do estado.
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