Seropédica: um lugar para a UFRRJ chamar de Lar

Por Isabelle Brenda

O município de Seropédica vive mudanças radicais nos últimos anos. Até pouco tempo atrás a cidade possuía uma cultura rural, pautada na agricultura familiar. Porém, com a elevação de Seropédica a município em 1997, a expansão da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, a construção do Arco Metropolitano, dentre outros fatores, a dinâmica socioeconômica da cidade foi fortemente alterada.

É inegável dissociar a imagem da UFRRJ e todo impacto positivo que ela causa no município de Seropédica e de seu entorno. Em 2020 a instituição completou 110 anos de criação. Quer entender como uma instituição criada nos primórdios da República na antiga capital do Brasil (Rio de Janeiro), mudou-se para o KM 47 da BR 465 em 1940, construiu um dos mais belos campus do Brasil e se consolidou como uma das melhores instituições de pesquisa do nosso país? Vamos lá!

Primórdios da Instituição

O que conhecemos hoje como UFRRJ ou apenas “Rural”, instituição plural e diversificada, que hoje oferece cursos em todas as áreas do conhecimento, com presença em quatro municípios do Estado do Rio de Janeiro, dois deles na Baixada Fluminense, tem raízes na antiga Escola Superior de Agricultura e Medicina Veterinária (Esamv), criada através de um decreto presidencial assinado por Nilo Peçanha que lançava as bases do ensino agropecuário no Brasil.

Em uma entrevista em comemoração aos 110 anos da Instituição, o ex-reitor Ricardo Berbara declarou: Somos uma Rural totalmente distinta daquela de 110 anos. Naquela época, era uma instituição metropolitana, urbana, branca, masculina e com um perfil socioeconômico de alunos vinculados às classes A e B. Agora, a maioria dos estudantes é formada por negros e pardos, mulheres e pessoas vindas de família com renda média per capita inferior 1,5 salário-mínimo. Hoje, a Rural é mais colorida, culturalmente mais diversa e socialmente mais democrática. Continuamos uma instituição nacional e internacional, mas com perfil mais dinâmico e integrado com desafios das regiões periféricas do Rio de Janeiro”.

Decreto 8.319: as raízes da UFRRJ

Quando o presidente Nilo Peçanha assinava o Decreto 8.319 e criava a Esamv, em 20 de outubro de 1910, o Brasil era uma jovem república, ainda muito desigual e com o poder político nas mãos de latifundiários. O documento que criou essa instituição também lançava as bases do ensino agropecuário do Brasil. Nesse contexto, a industrialização estava engatinhando e o país era essencialmente rural, cerca de 75% da população era analfabeta e a precariedade da educação era um obstáculo para a qualificação do trabalhador urbano e rural.

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A temática do ensino agrícola ganhava preponderância pela necessidade de modernizar a agricultura e desenvolver o país. Os agrônomos se organizavam na Sociedade Nacional da Agricultura (SNA) e articularam para que fosse criado o Ministério da Agricultura Indústria e Comércio (Maic).

A Esamv tinha caráter estratégico para o Maic, envolvia até disputas entre oligarquias que atrasaram em três anos a instalação da Escola. Então, em 1913, num prédio nobre (o antigo palácio do Duque de Saxe, localizado no bairro do Maracanã, Rio de Janeiro) foi a primeira sede daquele “embrião” da atual UFRRJ. Contudo, em 1915 a Esamv fecha as portas com alegação de falta de verbas, mas a história nos diz que na verdade houve pressão de oligarquias para que as pesquisas parassem, especialmente grupos oligarcas de São Paulo.

Peregrinações: em busca de uma nova sede

Após precisar fechar as portas do antigo palácio Duque de Saxe, o embrião da UFRRJ começa uma série de peregrinações por diferentes sedes. A sobrevivência da Escola foi garantida pelo Decreto 12.012, de 20 de março de 1916, que a fundiu às Escolas Médias ou Teórico-Práticas de Pinheiro e da Bahia. Essa instituição tinha sede em Pinheiral, interior do Rio de Janeiro. Naquele mesmo ano, foi formada a primeira turma de engenheiros agrônomos. Em 1917 formaram os quatro primeiros médicos veterinários da instituição.

Mas o interior não fez bem a Escola, que perdeu parte do seu prestígio e corpo discente. Ciente disso, a Escola foi transferida para o Horto Botânico de Niterói em 1918. Esse período niteroiense foi bom, pois ajudou a instituição a se consolidar.

Porém, em 1927 a instituição era instalada em mais um espaço improvisado: num edifício do Ministério da Agricultura, na Avenida Pasteur 404, Praia Vermelha. Esamv se transformava novamente e aquiria prestígio. Em 1934, o Decreto 23.857 dividiu a Escola em três instituições: Escola Nacional de Agronomia (ENA), Escola Nacional de Veterinária (ENV) e Escola Nacional de Química. A Escola se tornava, portanto, a instituição considerada mais importante do Ministério da Agricultura.

Em 1938, a instituição começa a se expandir, e o prédio que ocupava na Urca ficou pequeno, além de obrigar os alunos a se deslocar até Deodoro no campo de experimentação agrícola, bem distante da sede.

O local escolhido para a construção da nova sede foi o Km 47 da antiga Estrada Rio-São Paulo, área que pertencia ao município de Itaguaí na época. O local até hoje abriga o campus Seropédica da UFRRJ. 

Jardins – Campus de Seropédica em construção Disponível em: https://institucional.ufrrj.br/

Nasce uma universidade

A primeira denominação como universidade ocorreu em 1943. Em 30 de dezembro, o Decreto-Lei 6.155 reorganizava o CNEPA e criava a Universidade Rural.

Em 1963 ela muda de nome mais uma vez: Universidade Federal Rural do Brasil. Durante a Ditadura, a instituição adotou a atual denominação Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (Decreto 60.731, de 19 de maio de 1967). Em 1970 aconteceu a aprovação de um estatuto que ampliou as áreas de ensino, pesquisa e extensão. Em 1972, teve início o sistema de cursos em regime de crédito.

Imagem: Reprodução

Muitos cursos foram criados, como Geologia, Zootecnia, Administração de Empresas, Economia e Ciências Contábeis etc. Esse crescimento irradiou e proporcionou o desenvolvimento de Seropédica, pois muitos alunos foram morar em repúblicas, casas. Daí houve expansão comercial provocada pela expansão do número de vagas e cursos da UFRRJ.

Já no período da redemocratização, a UFRRJ se expande para Campos de Goytacazes/RJ, o espaço é atualmente um dos quatro campus da Universidade, voltando-se especificamente à pesquisa.

Século XXI

Mas é nos anos 2000 que a universidade vai consolidar a transformação da sua identidade. O Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), instituído em 2007, é apontado como um divisor de águas. Novos cursos foram criados durante o processo: em 2009, Belas Artes, Ciências Sociais, Direito e Letras; em 2010, Comunicação Social/Jornalismo, Engenharia de Materiais, Farmácia, Psicologia e Relações Internacionais. Também foram inaugurados dois novos campus: Nova Iguaçu e Três Rios.

Câmpus Nova Iguaçu (IM) – Entrada. Disponível em: https://institucional.ufrrj.br/

Atualmente, é consenso que a Rural é a maior referência científica e cultural da Baixada Fluminense e de Três Rios. A instituição se consolidou como um espaço de debates acadêmicos e políticos, de reflexões e diagnósticos para o meio socioambiental em uma região tão carente de atenção como os municípios da Baixada.

A UFRRJ oferece cursos de graduação, especializações, mestrado e doutorado, além de ensino médio e técnico ofertado através do Colégio Técnico da Universidade Rural (CTUR).

Obrigada por me acompanhar até aqui! Você estudou ou conhece alguém que estuda na Rural?

Fontes:
IBGE | Cidades@ | Rio de Janeiro | Seropédica | História & Fotos
CCS (ufrrj.br)

Isabelle Brenda é nascida e criada em Duque de Caxias. Formada em História pela UFRJ, pesquisa sobre História da Imprensa no Rio de Janeiro no século XX. Atualmente, trabalha como supervisora de pesquisa no IBGE.

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