Por Jackeline Marins
Não sei quanto a você, mas o planejamento de férias por aqui, é uma viagem que começa antes de tudo acontecer.
Muito além de quando ir e onde ficar, tem as pesquisas sobre o que tem nesse lugar que não se pode deixar de conhecer ou revisitar. O que ainda não fiz, mas quero fazer dessa vez…
Afinal, tempo é dinheiro. E, nas férias, algumas pessoas curtem em dólar, euros ou qualquer outra moeda estrangeira. Mas, mesmo quando desfrutamos em real, otimizar tempo-dinheiro é objetivo de turista.
Chegamos ao destino e começa a correria pra aproveitar cada segundo em que o pano de fundo da vida se desdobra e ganha uma mudança legal. Nada de obrigações, preocupações ou questões da rotina. Por mais que tudo isso ainda esteja por lá quando voltar, a vida ganha um colorido diferente. Os sons são outros. A comida pode ser diferente.
Mas, no final, não vem aquela sensação de que é preciso mais uns dias de férias, pra descansar das férias?
E lá se vão o céu azul e o contraste das palmeiras balançando suavemente ao sabor do vento fresco, que também sopra os cabelos, e as águas mornas do mar nordestino são engolidas pelo retorno à vida cotidiana.
Adeus, sabor da brusqueta de macaxeira, da tapioca e do munguzá, que alimentaram a manhã pra andança do dia até o almoço, com baião de dois na nata e carne de sol desfiada com pirão de carne e maxixe, regados a muita água de coco.
É como acordar bruscamente depois de um sonho adorável…
O turismo é uma cadeia produtiva de enorme potencial, que permite a produção de riquezas com a prestação de serviços para um público que chega para viver apenas as coisas boas, bonitas e perfeitas de cada lugar. A parte romântica e glamurosa que faz de cada cidade um paraíso para alguém, por um tempo determinado.
São viagens para turismo de aventura, ecoturismo, viagens românticas, culturais, estudantis, de trabalho, turismo rural… são muito diversas as possibilidades.
É bem complexa essa cadeia produtiva. Tanto que existe uma graduação específica, que forma turismólogos, profissionais especializados em hotelaria, gastronomia, produção de eventos, organização de pacotes de viagem, entre outras funções que nem sei descrever.
No Estado do Rio de Janeiro, está em vigor a Lei nº 9811, de 24/08/2022, que institui a Política Estadual de Turismo. É bem recente, mas propõe ordenar a atividade, consolidando estratégias e prioridades, com o objetivo de apoiar o planejamento, a gestão e a promoção de turismo no estado, por meio de desenvolvimento sustentável, que fortaleça e integre o setor.
De acordo com dados do IBGE, de 2021, o turismo respondeu por 2,9% do PIB nacional. No Estado do Rio de Janeiro, os dados pré-pandemia apresentavam um resultado em torno de 14%. E só a cidade do Rio de Janeiro é responsável pela maior parte dessa contribuição.
Trata-se de uma cadeia produtiva complexa, pois requer estruturas bastante diversas para obter resultados significativos, dentre as quais segurança, educação, infraestrutura hoteleira, gastronômica, de transporte e trânsito, malha aeroviária, rodoviária, equipamentos turísticos, atrações culturais e artísticas… ou seja, muitos assuntos e questões diferentes, que apresentam impacto direto e indireto, não só nos resultados econômicos, mas na experiência do turista.
O êxito dessa experiência dos visitantes é fundamental para que outras visitas aconteçam no futuro e para que o marketing viral, o antigo método boca a boca, funcione.
Tecnicamente falando, de acordo com Bruno Guitarrari, marketing viral é uma estratégia que visa atrair o público e surpreendê-lo positivamente, a ponto de torná-lo divulgador do produto ou serviço. É um recurso com custos menores pois utiliza o próprio público-alvo como divulgador.
Como política pública, o turismo exige o investimento governamental em áreas que também resultarão em melhoria na qualidade de vida dos habitantes de cada local, tendo em vista o investimento necessário em educação e segurança, por exemplo. Mas, também requer o investimento da iniciativa privada na rede hoteleira, na realização de eventos atrativos para os turistas nacionais e internacionais.
Os postos de trabalho gerados por essa cadeia produtiva representam oportunidade profissional para pessoas especializadas e para aquelas que não tiveram possibilidade de escolarização. Com boa oportunidade para o desenvolvimento pessoal e a mobilidade para troca de funções em virtude de novas habilidades adquiridas.
A Comissão de Turismo da Alerj está analisando um plano de trabalho com ações, que, entre outras coisas, propõe realizar audiências para discutir o incremento dessa cadeia produtiva e auxiliar sua expansão para outras áreas de interesse além da região metropolitana do Rio.
Um exemplo de ação é a divulgação desses atrativos e equipamentos localizados fora da capital e da região metropolitana. Um bom exemplo de equipamento turístico a ser divulgado é o Parque Estadual do Desengano.
Criado por decreto, em 1970, o parque abrange os municípios de Santa Maria Madalena, São Fidélis e Campos dos Goytacazes, na região norte fluminense. É um ponto de observação de aves, reconhecido internacionalmente como uma IBA – Important Bird and Biodiversity Area, que atrai fotógrafos especializados e observadores de pássaros.
Mas não é só. É, também, o primeiro local da América Latina a exibir o certificado internacional de Dark Sky Park, reconhecido como excelente ponto para a astrofotografia e a observação noturna do céu, atraindo astroturistas brasileiros e estrangeiros, em virtude de ausência de poluição luminosa.
Na região dos lagos, fica o maior ecossistema lagunar hipersalino permanente do mundo, com 220 km² de extensão, a Lagoa de Araruama, recurso natural de enorme importância ecológica, além de atrair kitesurfistas pelo vento forte e constante que sopra em suas praias, especialmente nas praias da Pontinha, Pontinha do Outeiro e Ponta da Alcaíra ou Arubinha, como vem sendo chamada hoje.
Esses locais são abrangidos pelo Plano Estadual de Desenvolvimento do Turismo e cada um tem necessidades específicas para que as visitas turísticas sejam incrementadas e a cada ano mais pessoas possam desfrutar suas delícias.
O combate à poluição luminosa ou das águas, a melhoria da malha rodoviária para acesso, a qualificação dos prestadores de serviço, a realização de eventos e sua divulgação ampla, pois muitos nativos fluminenses não conhecem o Parque Estadual do Desengano ou sabem da importância da laguna.
Enfim, viajar é mudar a alma de lugar. Ou, como disse Mário Quintana: “viajar é mudar a roupa da alma”.
E o turismo desobrigado?
Ah! Esse é maravilhoso.
Funciona mais ou menos assim: acordar, tomar café, olhar o dia e decidir o que fazer ali, naquele momento único e exclusivo. Sem roteiro. Sem obrigação de visitar coisa alguma. Ou qualquer horário para seguir.
Uma modalidade nova de turismo que até pode comportar os horários de café da manhã mais rigorosos, mas ficaria ainda melhor se nem esse horário existisse. Muitos risos a essa altura.
Bem ao estilo Zeca Pagodinho, deixando a vida levar por onde os olhos chegarem e der vontade de alcançar ou ir além.
Se assim, por um lado perde-se a oportunidade de marcar pontos que descobrimos e conhecemos, por outro, ao terminarem as férias ou o fim de semana, estamos recarregados e descansados, ostentando uma alma de roupa nova.

Jackeline Marins é Mestre em Política Social, Especialista em Administração Pública, Pedagoga, Especialista do Legislativo colaboradora do BRAVA BAIXADA.
Que bom que a Alerj de alguma forma incentiva o fomento do turismo, grande fonte de renda, de divulgação da cultura e do que há de melhor em cada cidade do nosso estado!!