No fim de uma rua de barro, num dos bairros mais esquecidos de Duque de Caxias, um menino aprendeu a correr descalço, desviar dos buracos e dominar a bola como se fosse o único caminho possível. O nome dele é Alexsandro Ribeiro. Hoje, com 25 anos, o zagueiro do Lille, da França, está entre os convocados de Carlo Ancelotti para vestir a camisa da seleção brasileira. Mas antes da Champions League, vieram os becos do Dique.
Ali, entre casas simples e ruas apertadas, a infância foi marcada por uma ausência constante: a de opções. Quem não se equilibrava entre o feirão, a obra e a coleta de recicláveis, torcia para que a bola rendesse algum futuro. Alexsandro se encaixava no segundo grupo. Criado apenas pela mãe, uma das tantas mulheres que buscavam sustento na informalidade, dividia a rotina entre cuidar dos irmãos mais novos e aproveitar qualquer brecha para jogar.

O Dique é um daqueles territórios onde a Baixada Fluminense mostra sua cara mais crua. Marginalizado, com infraestrutura precária, atravessado pela violência, e com a sombra permanente da exclusão social. Ainda assim, é também lugar de redes solidárias, dos campeonatos de rua, dos campos improvisados onde se aprende a competir e a resistir. Para muitos garotos da área, o futebol é a única linguagem universal capaz de furar as bolhas da desigualdade. E foi assim que ele começou a chamar atenção de olheiros.
Foi numa dessas peladas que Alexsandro deu seu primeiro salto. Chegou ao Flamengo em 2014 e integrou uma geração promissora, com nomes como Vinícius Júnior e Hugo Souza. Nos campos da Gávea, colecionou títulos na base e acumulou experiência, mas não teve espaço no elenco principal. Diferente dos colegas que subiram direto para o profissional, viu a porta se fechar antes mesmo de ter a chance de bater. Saiu sem contrato, com a frustração de quem esteve tão perto (e ainda assim tão longe).
Seguir em frente foi uma escolha e uma necessidade. Alexsandro tentou a sorte em outros clubes do Rio, sem sucesso. Voltou a fazer bicos, repensou a carreira, quase desistiu. Mas em 2019 veio o convite improvável: jogar no Praiense, da terceira divisão portuguesa. Era pouco. Era tudo. O futebol, ali, já não era sonho, era insistência.

O salto veio em etapas. Do Praiense ao Amora, do Amora ao Chaves, do Chaves ao Lille. E no Lille, enfim, estabilidade. A camisa titular, os minutos em campo, a chance de enfrentar gigantes da Europa. O garoto do Dique estava lá. Sem alarde, sem manchete, sem lobby. Só bola, treino, entrega.
A convocação à seleção foi vista com surpresa por parte da imprensa, que mal conhecia o defensor. Mas na Baixada ninguém estranhou. Gente como Alexsandro carrega a mão pesada do cotidiano e, se resiste, é porque tem lastro. É o tipo de jogador que não esquece de onde veio nem quando cruza o gramado do Santiago Bernabéu.
A história dele se junta à de tantos outros filhos da Baixada que, mesmo sem holofote, seguem construindo trajetórias improváveis. Do Dique para o mundo. Literalmente.
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