Festival Dia da Criação: Duque de Caxias sediou o primeiro festival de rock a céu aberto do Brasil 

Em plena Ditadura Militar, Duque de Caxias foi palco de um momento marcante da história da música no Brasil. No dia 14 de outubro de 1972, o município da Baixada Fluminense recebeu o primeiro festival de rock a céu aberto do país: o Festival Dia da Criação. O evento reuniu artistas de várias regiões do Brasil e até de países vizinhos, atraindo milhares de pessoas logo pela manhã de um sábado que se tornaria histórico.

Organizado por Marinaldo Guimarães, empresário da extinta banda brasileira de rock Módulo 1000, o festival teve como inspiração o lendário Woodstock, realizado nos Estados Unidos em 1969. A ideia era criar no Brasil um evento semelhante, voltado para o público jovem, adepto do movimento da contracultura, que pregava a paz, o amor livre e um estilo de vida alternativo.

“Os jovens brasileiros, mesmo que um pouco tardio, também faziam parte do movimento de contracultura que havia se alastrado pela Europa e Estados Unidos a partir da guerra do Vietnã, iniciada em 1959 e que durou até 1975, considerado o mais longo conflito militar ocorrido depois da II Guerra Mundial. Esse movimento fez surgir o ‘flower power’, que originou vários festivais de rock, e a ‘era de aquarius’. A juventude era chamada de ‘geração bendita’, curtindo o ‘desbunde’, a paz e o amor, os cabelos longos e as roupas coloridas. Assim como ocorria lá fora, nossos jovens também eram contra as guerras e a tecnocracia e buscavam um modo de vida alternativo, longe dos conflitos”, escreveu o jornalista Josué Cardoso em artigo na revista Pilares.

Palco da resistência cultural

Entre os artistas que participaram do festival estão nomes como Fagner, Rui Mauriti Trio, O Terço, Karma e Sá, Rodrix & Guarabyra. “Artistas como Fagner, Rui Mauriti Trio, O Terço, Karma e Sá, Rodrix & Guarabyra passaram pelo palco, onde um emaranhado de fios se misturava a incontáveis caixas de som, amplificadores, microfones, luzes, guitarras, baixos, flautas, violões e sintetizadores. A cidade entrava, para sempre, na história por ter realizado o primeiro festival ao ar livre do país voltado ao público jovem”, destacou o jornalista.

Em seu blog Aperitivo Digital, o escritor Paulo Patalano relembrou sua experiência no evento, aos 15 anos. “Ficamos sabendo (não me lembro como, mas provavelmente pela adorada rádio Federal de Niterói, que a gente então ouvia mal e porcamente num radinho de pilha) que ia rolar um grande festival de Rock em Caxias, reunindo a nata das bandas e artistas da época. […] Chegamos ao local do evento, o portentoso (!) Estádio Municipal de Duque de Caxias, popularmente conhecido como Maracanãzinho. O palco estava montado, mas o público reduzido e a demora para o início dos shows fizeram com que a gente duvidasse se haveria mesmo o Festival. Mas acabou rolando, e foi histórico”.

Apesar do cenário político adverso, com forte repressão cultural, o festival aconteceu graças a uma articulação com o Departamento de Educação e Cultura da Prefeitura. “Era prefeito nomeado na época o general Carlos Marciano de Medeiros, sendo diretora do Departamento de Educação e Cultura da Prefeitura, a professora Hilda do Carmo Siqueira, irmã do Dr. Moacyr do Carmo, então o último prefeito eleito pelo voto popular. Ela foi uma das poucas exceções naquele desastrado governo, administrando o DEC com dedicação e competência, a qual se subordinava a Divisão de Recreação e Cultura da municipalidade”, lembrou o professor e historiador Stélio Lacerda. “E foi justamente uma parceria com esse setor da Prefeitura que possibilitou a realização do evento.”

Um marco esquecido(?)

Pouco lembrado fora da Baixada, o Festival Dia da Criação é um exemplo emblemático de como a juventude caxiense resistiu com criatividade e música, mesmo nos tempos sombrios da repressão. Um feito que merece ser redescoberto, não apenas como curiosidade histórica, mas como símbolo da potência cultural da região.

Fotos: site Lurdinha

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