Por Isabelle Brenda
Entre festejos e resistência, o carnaval do Rio de Janeiro é considerado a maior festa de rua do mundo. Durante pouco mais de um mês, as ruas se transformam em palcos de uma tradição que atravessa séculos. E nesse período de folia, a Baixada Fluminense também brilha, revelando o seu potencial e contribuindo com histórias marcantes para o carnaval.
Os primeiros registros de blocos carnavalescos na Baixada remontam ao século passado. No início, eram associações de bairro que saíam às ruas apenas para festejar, mas, com o tempo, esses grupos começaram a se organizar, dando ritmo e forma ao carnaval. Assim, surgiram blocos mais estruturados, que, além de celebrar, passaram a disputar títulos com as agremiações da capital.
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Neste artigo, destacamos duas dessas agremiações que resistem ao tempo e enfrentam desafios como a falta de apoio governamental e de patrocinadores: o Império do Gramacho, de Duque de Caxias; a Leão de Nova Iguaçu, de Nova Iguaçu. Essas agremiações mantêm viva a tradição carnavalesca e são símbolos da resistência cultural da Baixada Fluminense.
Império do Gramacho: o verde e rosa de Duque de Caxias
Fundado oficialmente em 1972, o Império do Gramacho nasceu no bairro Gramacho, em Duque de Caxias. Antes de sua legalização, a agremiação era conhecida como “Império do Bananal”, um bloco que já mobilizava a comunidade para celebrar o carnaval.

As cores verde e rosa têm uma ligação direta com a Estação Primeira de Mangueira. Desde os primeiros anos, nomes consagrados da Ala de Compositores da Mangueira, como Pelado, Moacir “Ameixa”, Padeirinho e Preto Rico, estiveram presentes no cotidiano do Império, marcando sua identidade. O primeiro samba oficial do bloco, em 1972, foi composto pela dupla Moacir e Padeirinho, e, em 1975, a agremiação foi batizada pela Ala de Compositores da Mangueira.

Ao longo de sua trajetória, o Império do Gramacho colecionou prêmios como as melhores alas das crianças (1996 e 2006), das baianas (1996, 2006 e 2009) e melhor bateria (1996 e 2011). Também conquistou títulos importantes, como melhor porta-estandarte e melhor mestre-sala. Em 2005, venceu o campeonato com o enredo “O Império canta e encanta o século dourado do Brasil”. Em 2024, alcançou o 3º lugar com o enredo “Cidade Maravilhosa”. Este ano, promete emocionar com o tema “Luar do Sertão, o Rei do Baião”, uma homenagem a Luiz Gonzaga.
Do Bloco dos Índios à Leão de Nova Iguaçu
A história da Leão de Nova Iguaçu começou em 1968, no bairro Santa Eugênia, com um grupo de amigos que fundaram o “Bloco dos Índios”. Inspirados pelas tradições indígenas, eles levavam às ruas fantasias criativas, com cobras, lagartos e trajes típicos. Com o crescimento do bloco, veio o desejo de disputar desfiles na capital, e, assim, criaram o Grêmio Recreativo União de Nova Iguaçu.

Durante o processo de registro, um erro cartorário transformou o nome “União” em “Leão”, e os integrantes decidiram adotar a mudança. Antes de se tornar escola de samba, em 1986, o bloco teve entre seus integrantes ninguém menos que Neguinho da Beija-Flor, antes de sua consagração na Beija-Flor de Nilópolis.

A Leão de Nova Iguaçu se destacou por enredos que valorizavam a cultura afro-brasileira e a história do município. Em 2023, trouxe para a avenida o enredo “O Canto da Leoa: A História de Nova Iguaçu”, homenageando as raízes culturais da cidade. Este ano, na Série Prata da Superliga, a escola desfilará com “O Grande Obá“, que conecta o símbolo do leão ao rei Aganjú, uma qualidade de Xangô, e ao sincretismo com São Jerônimo, padroeiro da agremiação.
A força do Carnaval na Baixada
Essas agremiações são apenas uma amostra da riqueza cultural que pulsa na Baixada Fluminense. Em meio às dificuldades, elas resistem, inovam e levam para a avenida um espetáculo que mistura história, comunidade e paixão. Enquanto os holofotes se voltam para os desfiles na Sapucaí, é na resistência dos blocos e escolas da Baixada que o verdadeiro espírito do carnaval brasileiro ganha vida.
Assim, ao celebrar o carnaval deste ano, que tal olhar além da capital? Descubra as histórias e tradições que fazem da Baixada um verdadeiro celeiro de talentos e resistência cultural. Afinal, é nas suas ruas e comunidades que o samba realmente não deixa a peteca cair.
Império do Gramacho [curta-metragem]

Isabelle Brenda é nascida e criada em Duque de Caxias. Formada em História pela UFRJ, pesquisa sobre História da Imprensa no Rio de Janeiro no século XX. Atualmente, trabalha como supervisora de pesquisa no IBGE.
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