Pelos trilhos da Baixada Fluminense

Por Isabelle Brenda

O que uma igreja, um bar frequentado pela elite de fazendeiros e o primeiro prédio comercial de Nova Iguaçu têm em comum? Essas três construções, além de serem históricas, estão às margens da linha do trem, hoje em dia ramal Japeri.    

No meu último artigo publicado aqui no BRAVA BAIXADA falei sobre os vestígios dos tempos coloniais da Baixada Fluminense, marcas do passado que permitem manter viva a memória desses tempos. O Sambaqui indígena abre lugar para os tempos das igrejas de inspiração barroca, como a Igreja do Pilar, em Duque de Caxias. As principais localidades, até então, estavam às margens dos rios. Mas agora vamos dar um salto na história para explorarmos os séculos XIX e XX, e vamos perceber como a ferrovia modificou a história da Baixada Fluminense.

Do Caminho Novo do Ouro à Estrada de Ferro

A Baixada Fluminense tem uma história cheia de detalhes e reviravoltas. Ela surgiu como um presente dado aos colonos pela Coroa Portuguesa após evitarem a invasão dos franceses. Com a descoberta do ouro no Brasil, uma nova fase da história se inicia e a Baixada participa ativamente como rota de ligação entre Minas Gerais e a Corte que estava no Rio de Janeiro, através do Caminho Novo do Ouro.

A viagem pelo Caminho Novo do Ouro iniciava na Praça XV, fazia uma escala na Ilha do Governador e seguia navegando pela Baía de Guanabara. Adentrava do rio Iguaçu e depois seu afluente, desembarcava no porto da Freguesia de Nossa Senhora do Pilar do Iguaçu, atual bairro Pilar localizado em Duque de Caxias. Esses locais tiveram grande importância econômica durante os séculos XVIII e XIX. É importante lembrarmos que esses rios citados eram muito mais largos do que são hoje em dia, após o processo de assoreamento que eles sofreram com a urbanização da região. Os tempos áureos das rotas fluviais dão lugar às estradas de ferro.

Em meados de 1850 as terras da Baixada são cortadas pela Estrada de Ferro D. Pedro II, que a partir de 1889 passou a se chamar Estrada de Ferro Central do Brasil (esse nome certamente você conhece). A linha iniciava no Campo da Aclamação até a Estação de Queimados, e mais tarde até a estação de Belém, atual Japeri. Ressalto que o principal objetivo dessa ferrovia era o escoamento da produção cafeeira e não o transporte de passageiros.

Com a nova estrada de ferro algumas regiões entraram em declínio, como os municípios Estrela e Iguaçu, que ficaram estagnados economicamente e desapareceram posteriormente. No entanto, outras vilas surgiram ao redor dos trilhos como Maxambomba, atual Nova Iguaçu.

Estação Maxambomba – Nova Iguaçu

A estação de Maxambomba foi inaugurada em 1858, e servia como parada intermediária dos trens de passageiros que iam de São Paulo ou Belo Horizonte, além de ser também uma estação de subúrbio, como é até hoje. O nome veio da expressão inglesa machine pump que significa “bomba mecânica”. Em 1916 a estação teve seu nome alterado para Nova Iguaçu

Plataforma da estação, provavelmente anos 1960 (Autor desconhecido).

Novos trilhos, novas cidades: Nilópolis

Originando-se do antigo município de Nova Iguaçu, Nilópolis se tornou umas das primeiras vilas a se converter em município. O papel dos trilhos foi decisivo pois tornou o local integrado na dinâmica de produção e circulação de mercadorias. A escolha do nome da cidade, em homenagem ao então presidente Nilo Peçanha, buscava dar importância para a luta dos moradores locais. Ainda em 1916, Nilo Peçanha visitou “Nilópolis”, essa visita mobilizou muito o poder local e a população em geral que providenciaram a inauguração da luz elétrica para o evento. Na ocasião, o presidente prometeu solucionar o problema do abastecimento de água.

Estação de Nilópolis com trem a vapor e jardineiras, provavelmente anos 1920 (Autor desconhecido)

Época dos “Coronéis”

No mesmo período de expansão das ferrovias, a cidade do Rio de Janeiro estava se expandindo e necessitava de locais para que os trabalhadores pudessem habitar, foi quando começou o processo de loteamento dos territórios da Baixada Fluminense. Esse período também é marcado pelo surgimento de novas elites políticas locais.

Na década de 20 esses loteamentos proliferaram e os núcleos urbanos se adensaram, e a cerne da Baixada ainda era Maxambomba, uma pacata estação em meio a um laranjal. Essas contradições se aguçam e os distritos de Duque de Caxias e São João de Meriti são criados já possuindo características eminentemente urbanas. Sobre a emancipação desses novos municípios conversamos outra hora, tudo bem?

Abaixo deixo um trecho de uma canção interpretada por Zeca Pagodinho e escrita por Nei Lopes e Wilson Moreira que versa sobre algumas mudanças trazidas pelas ferrovias e que conversamos aqui no Brava Baixada:

Tairetá hoje é Paracambi
E a vizinha Japeri
Um dia se chamou Belém (final do trem)
E Magé, com a serra lá em riba
Guia de Pacobaíba
Um dia já foi também (tempo do vintém) Deodoro (que bonito!) também já foi Sapopemba
Nova Iguaçu, Maxambomba
Vila Estrela hoje é Mauá (Piabetá)
Xerém, Imbariê
Mas quem diria
Que até Duque de Caxias
Foi Nossa Senhora do Pilar 
Composição: Nei Lopes e Wilson Moreira

Bibliografia:  
RODRIGUES, Adrianno Oliveira. De Maxambomba a Nova Iguaçu (1833-90s) : economia e território em processo. Dissertação de Mestrado – UFRJ 2006. 127 f.
Fotografias históricas retiradas do site: http://www.estacoesferroviarias.com.br/

Isabelle Brenda é nascida e criada em Duque de Caxias. Formada em História pela UFRJ, pesquisa sobre História da Imprensa no Rio de Janeiro no século XX. Atualmente, trabalha como supervisora de pesquisa no IBGE.

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