Por Isabelle Brenda
A Baixada Fluminense é um conjunto de treze cidades que integram a Região Metropolitana do Estado do Rio de Janeiro. O que são vários municípios hoje era apenas um até 1943, Iguaçu. A história da ocupação da região é cheia de detalhes e personagens, algumas marcas da colonização foram deixadas e podem ser visitadas até hoje. Vamos conhecer um pouco mais da história da ocupação do Recôncavo da Guanabara e alguns monumentos que podem ser visitados.
Baixada Fluminense, Periferia, Região Metropolitana, Grande Iguassu ou Recôncavo da Guanabara
Seja qual for a nomenclatura utilizada para se referir à banda ocidental da Baía de Guanabara, é fato que a ocupação do território da Baixada está ligada a fundação da cidade do Rio de Janeiro, aliás foi a importância atribuída a antiga capital do Brasil que possibilitou o efetivo povoamento do território no entorno da charmosa Baía de Guanabara.
No entanto, não podemos ser ingênuos e esquecermos que essas terras já estavam ocupadas pelos seus habitantes iniciais, os indígenas. Podemos observar que até hoje algumas localidades guardam seus nomes originários de tupi-guarani, dialeto falado pelos índios tamoios e temiminós que habitavam a região antes do período colonial. O exemplo mais conhecido é Iguassu (que depois virou Iguaçu) que significa água/rio grande, outro caso é a localidade de Belém que teve seu nome trocado para o tupi e virou Japeri, que significa uma espécie de planta que boia sobre o rio.
A cultura indígena foi destruída pela ocupação urbana, a última referência a um aldeamento indígena na Baixada Fluminense é de 1570. Depois disso não há registro da presença indígena e, aparentemente, os poucos que restaram foram assimilados pela cultura dominante e desapareceram como grupo distinto. Mas há resquícios dessa fase da história da Baixada que pode ser conhecido, isso nos leva para a primeira parada, o Sambaqui do São Bento.

Trata-se de um sítio arqueológico de encosta formado por empilhamento de conchas de moluscos, carapaças de crustáceos, ossos de peixes, aves e pequenos mamíferos que foi coberto por solo e vegetação e revela aspectos da vida dos primeiros habitantes do litoral brasileiro, os chamados “Povos do Sambaquis”. “Sambaqui” significa montanha de conchas em tupi.
O sítio localizado no bairro de São Bento foi redescoberto em 2008 e escavado em 2010 pelo IAB (Instituto de Arqueologia Brasileira), revelou materiais de mais de 4 mil anos e preciosos artefatos utilizados pela comunidade paleoindígena. O local que pretende abrigar exposições e trabalhos sobre os “Povos dos Sambaquis” esta temporariamente fechado para o público, mas em breve deve ser aberto.
Primórdios coloniais
Além das nomenclaturas deixadas pelos indígenas, há outra contribuição: o conhecimento sobre as terras e rios da região. Esse vasto saber foi apropriado pelos portugueses que fizeram dos rios os caminhos naturais para a ocupação da Baixada Fluminense.
A população livre e escravizada que habitava a região estava dispersa nos engenhos de açúcar e fazendas próximos aos rios de onde partiam os barcos carregando açúcar e outros alimentos para a cidade do Rio de Janeiro, e poderiam ser consumidos ali mesmo ou embarcados para Portugal.
Começam a surgir ainda no século XVI as primeiras capelas, onde se reuniam os dispersos fiéis das fazendas e engenhos da região. Em 1570 os jesuítas já se estabelecem em Jacutinga, atualmente município de Mesquita e a partir de 1590 os beneditinos adquirem terras para o Mosteiro de São Bento às margens do Rio Iguaçu.
No início do século XVII se estabelece um novo modelo de organização da Igreja Católica através de freguesias e distritos. A primeira freguesia que se tem registro foi instalada em Pilar, atual Duque de Caxias, em 1612 com o nome de Nossa senhora do Pilar.
Igreja do Pilar
O prédio da Igreja do Pilar foi erguido em 1720 e apresenta características semelhantes às igrejas barrocas de Minas Gerais. Em 1938 a igreja teve todo o seu acervo tombado pelo Iphan, um ano após a criação do instituto. O monumento está inscrito no Livro do Tombo das Belas Artes.
A Igreja do Pilar ganhou ainda mais destaque com a abertura do Caminho do Ouro. A partir do porto de Pilar o caminho acompanhava o rio e próximo ao atual distrito de Xerém iniciava a subida da Serra do Mar, seguia até o Rio Paraíba do Sul e entrava em terras mineiras.
Uma curiosidade é que essa não é a primeira construção do templo. A obra inicial começou em 1697, mas devido ao material utilizado não ser duradouro, logo foi necessário uma reconstrução do templo com material mais durável. Em 2020, após muitas denúncias sobre as más condições em que a igreja se encontrava, o templo passou por obras de restauração.

Diversos outros caminhos que cortam a Baixada Fluminense surgem durante o ciclo do ouro, mas eles não são capazes de criar grandes aglomerações na região. O que não impede de criarem alguns padrões que vão determinar a ocupação desse território. Por exemplo a primazia da cidade do Rio de Janeiro e a subordinação dos núcleos urbanos que margeavam esses caminhos e sua órbita de influência.
Podemos concluir que até inauguração da Central do Brasil as principais localidades estavam às margens dos rios. Após a construção das linhas de trem algumas localidades ganharam mais importância e outras foram esquecidas. De fato, o mais importante é conhecermos nossa história, nosso patrimônio, pois só assim poderemos preservá-los. Somente cuidando desses monumentos e lugares de memória da Baixada Fluminense que será possível aproveitar o enorme potencial para o turismo que eles possuem.
Bibliografia
SIMÕES, Manoel Ricardo. A cidade estilhaçada: reestruturação econômica e emancipações municipais na baixada fluminense. Mesquita: ed. Entorno, 2007.

Isabelle Brenda é nascida e criada em Duque de Caxias. Formada em História pela UFRJ, pesquisa sobre História da Imprensa no Rio de Janeiro no século XX. Atualmente, trabalha como supervisora de pesquisa no IBGE.