Arte da Política | Trabalhar Cansa (Filme)

Por Bernardo Carapiá

Trabalhar Cansa é um filme brasileiro de 2011 dirigido por Juliana Rojas e Marco Dutra.

Na trama, acompanhamos Helena (Helena Albergaria) que acaba de abrir seu minimercado em parceria com o seu marido Otávio (Marat Descartes), que acabou de perder seu emprego. Juntos eles tentam resgatar a estabilidade dos destinos do casal e solucionar problemas estranhos que acontecem no estabelecimento comercial.

Planos estáticos, sem maiores estilizações e interpretações com baixa densidade dramatúrgica são artifícios conceituais utilizados pelos diretores para impor uma narrativa mais realista, o que em algumas cenas destoa do adequado, por ferir justamente o realismo que elas pedem, tornando-as artificiais.

Essa direção de cena e atores somada a situações recorrentes faz parecer ser uma escolha programada que retira a possibilidade de humanização dos personagens e dá a entender que tudo se trata apenas de meras relações de trabalho, principalmente da personagem Helena no trato com seus empregados do mercado e sua empregada doméstica.

Essa falta de emoção nos personagens e as repetições dos lugares e situações faz com que se crie uma experiência quase maçante para o espectador. É fácil para quem assiste sentir o cansaço daqueles trabalhadores retratados na história, dos ambientes opressores de trabalho que eles habitam, da instabilidade da permanência nas funções que ocupam, a angústia que eles sentem do amanhã, do futuro, das contas a pagar. Otávio, o desempregado, com família para criar, que busca uma recolocação, é o personagem que mais materializa essa percepção no espectador.

Porém, o que a afasta o filme de ser enfadonho, apesar do conceito de sua narrativa e unidade estilística, é como a história se move, principalmente a partir de conflitos misteriosos, que sugerem algo sobrenatural que assume um aspecto de terror.

Ironicamente abordado, o terror é apenas mais um elemento, já presente naquelas relações de trabalho, mas, manifestado de outra forma, a desestabilizar os personagens da trama.

O que funciona como alegoria para retratar o terror na exploração e precarização da força de trabalho naquele ambiente, com uma crítica mirada, especificamente, a uma classe média que se enxerga em posição burguesa, mas que apesar dos privilégios, na realidade não passa de mera classe trabalhadora e, portanto, suscetível às ameaças e solavancos das intempéries econômicas, como qualquer outro mero trabalhador.

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