Arte da Política | Justiça Brutal (Filme)

Por Bernardo Carapiá

Justiça Brutal é um filme de ação policial, dirigido por S. Craig Zahler, lançado originalmente em 2018, mas que só chegou ao Brasil este ano, pela Prime Vídeo. Na trama, dois policiais, o veterano Brett Ridgeman (Mel Gibson) e o mais novo Anthony Lurasetti (Vince Vaughn), são suspensos após terem um vídeo de uma abordagem violenta vazado para o público. Precisando de dinheiro rápido, a dupla decide se apropriar do dinheiro roubado por ladrões em um assalto.

Acho necessário avisar ser um filme restritivo. Começando pela violência explícita, onde cenas fortes, carregadas de recursos gráficos, podem causar desconforto aos mais sensíveis; passando pela abordagem cinematográfica, que pode desagradar a maioria das pessoas, mas que entrarei em detalhes mais à frente.

Outra questão que vale a pena chamar a atenção é uma primeira impressão que a história passa: a de se tratar de um conteúdo de forte viés conservador, devido a diálogos que soam racistas, mas que na verdade, mais à frente, demonstrarão complexidade e ambiguidade maiores com relação ao DNA político da trama.

Falando sobre o longa, S. Craig Zahler decidiu adotar uma direção com um tom realista, que pode afastar um pouco o expectador, devido à lentidão que pode ser entediante para algumas pessoas. Mas é esse tom justamente o mais incrível, por dar peso maior às ações que acontecem na tela e que sustentam uma visão de um certo cinismo político.

A narrativa é dividida em duas visões dialéticas de mundo que no final se encontram no mesmo acontecimento. Temos a perspectiva mais conservadora dos policiais, sedentos em punir, que reproduzem discursos racistas, onde o olhar enxerga o negro sempre como criminoso. Mas também temos a história de um homem negro que, para ajudar a família, decide fazer seu último trabalho dentro do crime.

Embora ambos os lados tenham boas motivações, já que os policiais também têm seus conflitos familiares, a impressão que fica é que o estado falha com sua função de promover estabilidade para todos, só se ocupando em atacar a consequência da falência social, no caso o crime. Essa percepção é reforçada graças a abordagem realista, registrada com neutralidade, de forma fria e crua, demonstrando que a brutalidade desses embates gera um ciclo de violência cuja causa é o desamparo.

Por isso, eu vejo um certo cinismo na narrativa dos conflitos da história do filme, pois ele passeia pela complexidade dos problemas da sociedade americana, que também pode ser vista na nossa, mas não se aprofunda, não se atém a ela, e deposita todo o peso da trama apenas nas consequências desses conflitos, como se estivéssemos presos apenas a eles.

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