A Independência do Brasil e a Baixada Fluminense

Por Isabelle Brenda

O samba enredo da escola Beija-Flor de Nilópolis em 2023 foi “Brava Gente! O grito dos excluídos no bicentenário da independência”. Esse desfile foi uma aula de história do Brasil! O intuito principal do enredo era questionar os mitos construídos na história da independência e mostrar os verdadeiros heróis desse evento. Tais protagonistas foram invisibilizados pela história oficial: indígenas, negros, mestiços, mulheres e pobres. O enredo foi muito ousado e politizado, ainda mais 200 anos após o referido acontecimento.

Com tantas críticas sociais, a Marquês de Sapucaí virou palco de uma manifestação. Um dos carros alegóricos trouxe uma escultura que, na minha opinião, deveria ficar para sempre exposta em um museu: uma senhora negra costurando uma bandeira do Brasil com as inscrições “por um novo nascimento”. Na parte de trás do carro alegórico aparecia a inscrição “devolve o Brasil pra nós”. 

Foto: Reprodução

A chegada da Família Real ao Brasil

Para entendermos o processo de independência precisamos voltar a 1808 com a chegada da família real portuguesa ao Brasil. A colônia entrou em efervescência! Isso porque o regime colonial já havia explorado muito as terras nacionais e devido a intensificação de exigências de tributos pela Coroa portuguesa, existia uma profunda crise desde o final do século XVIII. O desenvolvimento do Brasil já não cabia na camisa de força do regime colonial. 

O príncipe regente d. João já estava ciente da insatisfação e do crescimento do movimento pela independência, então tomou medidas importantes já de início: converteu o Brasil em reino para integrar o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, derrogou a lei que havia ordenado o fechamento das fábricas e decretou a abertura dos portos às “nações amigas”. Era o fim do Pacto Colonial.

Com o falecimento da rainha dona Maria I, d. João passa a ser rei. Em Portugal aconteceu a Revolução Liberal do Porto, em 1820, passaram a exigir que o novo rei tornasse o Brasil uma colônia novamente. Como ele não aceitou, forçaram a volta da família real a Portugal. A família real retorna em 1821 e d. João VI nomeia seu filho d. Pedro como príncipe regente do Brasil.

Praticamente todos os setores nacionais se uniram em torno da Independência. Haviam formado um partido conhecido como Partido Radical (não estranhe o nome, eles nem eram tão radicais assim, mas pelos padrões da época sim!). Em meio à luta pela independência, a Corte portuguesa ainda queria que D. Pedro retornasse a Portugal como ocorrera com seu pai. Veio, então, o Grito do Ipiranga, em 7 de setembro de 1822.

Bahia comemora a independência em outra data

A Bahia comemora a Independência em 2 de julho, pois quase dez meses depois da data “oficial” é que foram expulsos as tropas portuguesas dessa região do Brasil. Ou seja, a luta continuou em várias localidades da região, o que desmente a crença de que a independência teria ocorrido sem luta.

O papel da Baixada Fluminense na Independência

Após esse breve histórico sobre a Independência do Brasil você deve estar se perguntando: qual foi o papel da Baixada nesse processo todo?

Em outro artigo publicado aqui no BRAVA BAIXADA eu contei para vocês sobre os vestígios da época colonial da Baixada, essas marcas permitem que conheçamos os primórdios da colonização, demonstram que desde o século XVI a região funciona como abastecedora da cidade do Rio de Janeiro e local de passagem de mercadorias. A região teve papel marcante durante a extração do ouro e agora com a vinda da Corte a Baixada Fluminense ganhará ainda mais destaque em sua posição estratégica de ligação entre o interior e o litoral.

Caminhos do ouro que viraram caminhos do café

Uma grande contribuição da Baixada para o período em que a Corte esteve presente no Brasil, e posteriormente durante o período da independência, foi servir como caminho para evacuação da produção de café. As diversas estradas que eram utilizadas para o caminho do ouro foram revalorizadas como caminho do café.

Foto: Cesar Ribeiro / BRAVA

Porto da Piedade em Magé

Porto da Piedade, um local de grande importância no período Brasil Colonial. Inicialmente, o píer foi usado para o desembarque de escravizados e, anos depois, como terminal de passageiros e receptor de mercadorias da Estrada de Ferro Teresópolis. Após a lei que proibiu o comércio de escravizados, o porto da Piedade passou a ser um local de desembarque ilegal de escravizados.

Quilombos

Na região de Iguassú se formaram muitos quilombos. Os quilombolas se instalaram nas matas e riachos, utilizando da proteção natural para dificultar invasões. Desde o ano de 1812 até meados do século XIX, os quilombos sofreram repressões organizadas pelas autoridades locais, mas conseguiram resistir.

O movimento continua no século XIX com o aparecimento de outras denominações, como: Quilombo do Bomba, Quilombo do Gabriel e Quilombo da Estrela. Os nomes dos quilombos referem-se às localidades geográficas, um exemplo é o riacho Gabriel, importante afluente dos Rios Iguaçu e Sarapuí, além do quilombo Santo Antônio de Jacutinga, referente à freguesia próxima.

Fábrica de tecidos

Em 1870 foi iniciada a construção da Companhia Têxtil Brasil Industrial, a famosa fábrica de Paracambi. Essa Companhia foi fundada com o objetivo de fabricar tecidos feitos de algodão. Esses tecidos eram denominados de tecidos finos, de boa qualidade, pois, os tecidos produzidos no Brasil, até então, eram grosseiros e feitos para serem utilizados como saco e para as vestimentas dos escravizados.

A Companhia Têxtil Brasil Industrial foi construída dentro de um contexto de muito importante para economia fluminense e do país, pois foi a maior fábrica de tecidos do Brasil, na época do Império.

A Baixada Fluminense estava coladinha à nova capital do império brasileiro e soube tirar proveito dessa história toda. A economia da região se fortaleceu como polo abastecedor da Corte, caminho para transporte de riquezas e escravizados. O papel da Baixada no Sete de Setembro foi fundamental e, posteriormente, contribuiu para a manutenção da unidade territorial de nosso país. 

Isabelle Brenda é nascida e criada em Duque de Caxias. Formada em História pela UFRJ, pesquisa sobre História da Imprensa no Rio de Janeiro no século XX. Atualmente, trabalha como supervisora de pesquisa no IBGE.

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