Enredo: Nos caminhos da Fé, o meu sonho anunciou… Salve Nossa Senhora Aparecida, a Mãe Preta do Brasil!
Introdução ao Sonho…
Desde os primórdios da humanidade, os sonhos têm sido mensageiros de revelações e canais de comunicação entre o humano e o transcendental. Para o sonhador, a experiência onírica pode ser um sinal precioso, a chave de um novo destino.
E o destino traçado veio como num sonho. Mais um? Como tantos daqueles que as madrugadas nos trazem? De fato, não era.
Naquela noite, quando um imperiano devoto recebe em seu inconsciente a mensagem que vem da luz incandescente de Nossa Senhora, ele ainda não sabia, mas nada seria como antes! A Mãe Negra se revela irradiando o seu caminho.
No dia seguinte, durante a tradicional roda de samba na quadra da nossa Escola, ele compartilha seu sonho com os demais imperianos. Por razões inexplicáveis, descobre-se que não apenas ele, mas cada integrante da comunidade passou pela mesma experiência na noite anterior. Estava decidido. Ela decidiu! A vela se acendeu!
Era um chamado da Mãe de todos os brasileiros: a fé e a devoção iriam guiar a procissão da Império da Uva de Nova Iguaçu em busca do seu grande sonho: o acesso à Marquês de Sapucaí. Desfilaremos um cortejo empoderado de esperança e resistência, a refletir os caminhos dos peregrinos rumo ao Santuário de Aparecida, a Casa da Mãe Preta do Brasil!
Justificativa do Enredo
Hoje a baixada parte em devoção, fazendo romaria em sua direção! Senhora Aparecida dos Desvalidos e dos Sofridos, Mãe dos pobres mãe da gente! Mãe preta desta terra brasileira, de gente cor de terra! Terra povoada de devotos teus!
E seus devotos cantam em teu louvor com suas vidas, com suas caminhadas e histórias, todos os dias, assim como cantou Milton Nascimento, o poema-oração escrito por Pedro Casaldáliga e Pedro Tierra na Missa dos Quilombos de 1981:
“Mariama, Iya, Iya, ô, Mãe do Bom Senhor!
Maria Mulata, Maria daquela colônia favela que foi Nazaré.
Morena formosa, Mater dolorosa, Sinhá vitoriosa, Rosário dos pretos, mistérios da Fé.
Mãe do Santo, Santa, comadre de tantas, liberta mulher.
Pobre do Presépio, Forte do Calvário, Saravá da Páscoa de Ressurreição, Roseira e corrente do nosso Rosário,
fiel companheira da Libertação.
Por teu Ventre Livre, que é o verdadeiro, pois nos gera livres no Libertador, acalanta o Povo que está em cativeiro,
Mucama Senhora e Mãe do Senhor.
Canta sobre o Morro tua Profecia, que derruba os ricos e os grandes, Maria.
Ergue os submetidos, marca os renegados, samba na alegria dos pés congregados.
Encoraja os gritos, acende os olhares, ajunta os escravos em novos Palmares.
Desce novamente às redes da vida do teu Povo Negro, Negra Aparecida!
Mariama, Iya, Iya, ô, Mãe do Bom Senhor!”
Primeiro Setor: A Partida em Romaria…
Assim como os milhares de romeiros de todo o país que peregrinam anualmente ao Santuário Nacional de Aparecida, durante o ano todo. E hoje a Império da Uva faz o mesmo… E vai caminhando, de ônibus, de bicicleta ou de cavalo, de carroça… Vai seguindo a rota pela via movimentada, ouvindo históricas de outros caminhos e de outros peregrinos que vem de todos os cantos do Brasil. Histórias sobre o Caminho da Fé, criado em 2003 e inspirado no Caminho de Santiago de Compostela, lá na Espanha. A rota parte de cidades como Águas da Prata, Andradas, Ouro Fino, Inconfidentes, Tocos do Moji, Estiva, Paraisópolis, Luminosa, Campos do Jordão, Pindamonhangaba, para enfim em Aparecida após mais de 300 km de percurso. Outras rotas incluem o Caminho do Rosário e a Rota da Luz, que também atraem milhares de peregrinos. Os símbolos são as setas amarelas indicadoras do trajeto e os cajados de peregrinos enfeitados com fitas, rosários, imagens da santa e até ex-votos, que são as provas de milagres: casinhas de papel, cabeças de cera, velas, retratos, altares pequenos e modestos…
Segundo Setor: Milagres, Histórias, Caminhos e Ex Votos…
Quando o romeiro chega na cidade de Aparecida, já vê a suntuosa Basílica da padroeira do Brasil, e adentrando a aura de mistério e magia, depara-se com a história que está viva na casa de nossa mãe:
A devoção a Nossa Senhora Aparecida remonta a 1717, quando pescadores no Rio Paraíba do Sul, em Guaratinguetá (SP), encontraram a imagem da santa em duas partes: primeiro o corpo, depois a cabeça. Após a aparição, os Pescadores conseguiram uma pesca milagrosa, dando início a uma devoção que cresceria ao longo dos séculos e se tornaria um dos maiores símbolos da fé católica no Brasil.
Os milhares de milagres atribuídos à intercessão da santa, fazem com que diversos peregrinos partam em romaria para a Casa da Mãe Aparecida. Destaca-se o caso do escravo Zacarias, cujos grilhões se soltaram milagrosamente ao passar diante da igreja de Nossa Senhora Aparecida. Esse episódio fortaleceu a relação da santa com os Oprimidos e Escravizados, tornando-se um ícone da luta pela liberdade. E o homem que entrou a cavalo na igreja para desafiá-la e a pata do cavalo ficou presa na pedra e então este cavaleiro incrédulo se converteu…
Reconhecida pela Princesa Isabel e pelo Papa, a santa se torna a Padroeira do Brasil! Mas seu maior reconhecimento é do povo, daqueles que ela protege e inspira à caminhada!
Nos terreiros ela é Oxum e se manifesta na “Missa dos Quilombos”!
A influência de Nossa Senhora Aparecida na luta social, na causa dos pretos, no samba e no batuque do povo oprimido, se reflete na Missa dos Pretos, celebrada pela primeira vez em 1981. Escrita por Dom Pedro Casaldáliga e Pedro Tierra, com música de Milton Nascimento, a missa homenageia os povos afrodescendentes e denuncia as injustiças da escravidão e da desigualdade social. A liturgia inclui versos como:
“Morena formosa, Mater dolorosa, Rosário dos pretos, mistérios da fé.”
A fé na Virgem da Conceição Aparecida manifesta-se e deixa rastros que comprovam seus milhares de milagres na forma de Ex Votos… Cabeças, pés, mãos, feitos de cera; casas de papel; fotografias; bilhetes; chapéus; chaves de todos os tipos…
Terceiro Setor: Canções para Mãe Preta
Ela chama seus filhos das cinco regiões do Brasil… Para cantarem unidos, brancos, pretos, pardos e índios… Unidos sob o seu manto azul…
Por diversas estradas até desembocarem na Via Dutra que leva direto ao Santuário da Mãe Preta!
Chegamos na Casa da Mãe Preta!
A mãe enfrenta valente o preconceito do pastor que a chutou até o governante que a usou de palanque… “Iluminai a cabeça dos homens óh mãe, te pedimos agora…”
A devoção a Nossa Senhora Aparecida que influenciou a cultura popular, especialmente a música. A Rádio Aparecida, fundada em 1951, tem sido um dos principais veículos de comunicação religiosa no Brasil, transmitindo missas, músicas e programas de devoção mariana.
Um dos aspectos mais simbólicos da devoção à Padroeira é a sua presença nas expressões artísticas e religiosas do Brasil.
A música caipira embala a caminhada, e diversas canções populares louvam a Maria Aparecida, mas talvez a mais famosa seja “Romaria”, de Renato Teixeira, eternizada na voz de Elis Regina. Em seus versos que dizem assim:
“Como eu não sei rezar, só queria mostrar meu olhar, meu olhar, meu olhar…”
A fé e a religiosidade popular se mesclam com o sagrado ecumênico episcopal, mostrando como Nossa Senhora Aparecida transcende o aspecto puramente devocional e se insere na identidade cultural do país. Por isto, feito no sonho do sambista, que sonhou a Império da Uva saindo em Procissão… Hoje cada sambista é um romeiro, um peregrino da grande jornada que é a vida, coberto por seu Manto Sagrado… Cada um de nós é um participante dessa grande Missa dos Quilombos… E não tem nada de pecado ou errado nisso! Pois ela une os pretos, ela desperta os pretos, ela liberta os pretos, e portanto, ela preta é do batuque também! Ora iê iê Nossa Senhora Aparecida! Ora iê iê Maria! “Ora et labora!” Ora e canta meu povo!
Assim, livre, ecumênica, milagrosa, maternal! “Mariama” pois Maria Ama!… Nossa Senhora Aparecida continua a ser um símbolo de fé, resistência e unidade nacional, conectando gerações de peregrinos, músicos e devotos em uma jornada de esperança e devoção.
Bill Oliveira William e Thales Monnerat
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