Tenório Cavalcanti foi um deputado federal muito conhecido por sua fama polêmica e por usar uma capa preta em qualquer lugar que fosse. Por conta disso, foi intitulado de “Homem da Capa Preta”. O nome repercutiu e, mais tarde, foi produzido um filme para contar um pouco da sua história e o título não poderia ser outro. Reconhecido pelo seu jeito violento e por ter diversos inimigos, Cavalcanti, com medo de sofrer atentados dentro de sua própria casa, mandou construir um casarão projetado com diversos artifícios para a sua segurança.
O nome faz jus às características da casa. Com 3.200 metros quadrados, a chamada “Fortaleza” possuía seu próprio gerador de eletricidade, 14 salas e quartos, nove banheiros, dois calabouços, tanques de oxigênio, 12 telefones e depósitos de alimentos.

As duas portas de entrada eram feitas de aço, pesando cada uma cinco toneladas. Elas eram automáticas, manuseadas por controle remoto. No interior da casa, tinha outra porta de aço, igual às usadas em cofres fortes. Elas davam acesso a um abrigo onde, em caso de emergência, daria pra permanecer vários dias em total isolamento.
As paredes deste compartimento eram forradas de papel que imitavam pedra, dando ao ambiente uma atmosfera de mistério. Ao fundo era possível ver uma escada e um alçapão, saída secreta para uma outra rua. Mas apesar da agressiva fachada, o interior da casa era confortável e atraente, principalmente pela beleza dos jardins suspensos que rodeiam a piscina.

A “Fortaleza” de Caxias também era o lugar ideal para quem quisesse sumir do mapa. Em 1964, com o golpe militar, Tenório escondeu artistas como Chico Anysio, Norma Benguel e ativistas como o então líder da UNE, José Serra. Um dos principais calabouços ficava atrás de uma falsa porta de cofre, junto à garagem da casa.
Um rápido passeio pela fortaleza, verdadeiro labirinto, mostra que era possível passar muito tempo fugindo de um inimigo dentro da própria casa. Todos os banheiros, por exemplo, se interligam através de vãos entre a parede e o teto, com cada pia estrategicamente localizada embaixo, para permitir a subida.

Em 1986 foi lançado o premiado filme O Homem da Capa Preta, de Sérgio Rezende, que conta a trajetória de Tenório. A família nunca quis vender a casa, que tem grande valor imobiliário – por sua localização no que é hoje o centro de Duque de Caxias -, mas um valor histórico e cultural ainda maior.
Tenório Cavalcanti, da conservadora UDN de Carlos Lacerda, teve seus direitos políticos cassados pela ditadura, mas não deixou o país. A fortaleza ficou fechada por quase 20 anos após sua morte, aos 82 anos, em 1987.
Frequentavam a fortaleza, como amigos do dono da casa, personalidades como Afonso Arinos e Oswaldo Aranha. Foi lá também que Tenório jogou o jornalista e apresentador Flávio Cavalcanti na piscina após uma irreverente entrevista, episódio que ganhou a primeira página de todos os jornais da época.

Hoje, a casa abriga em um Polo da Fundec (Fundação de Apoio à Escola Técnica, à Ciência, Tecnologia, Esporte e à Cultura), onde são oferecidos diversos cursos profissionalizantes na área da beleza e estética.
Foto principal: Rogério Torres
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