Duque de Caxias: de distrito a município

por Profª Drª Tania Amaro

Situado na Baixada Fluminense, Duque de Caxias abriga atualmente quase um milhão de habitantes em seus 465 km². Seus limites estendem-se, atualmente, aos municípios de Miguel Pereira, Petrópolis, Magé, Rio de Janeiro, São João de Meriti e Nova Iguaçu. A hidrografia pode ser resumida em quatro bacias principais: Iguaçu, Meriti, Sarapuí e Estrela. O município é dividido em quatro distritos: 1º- Duque de Caxias; 2º- Campos Elíseos; 3º- Imbariê; 4º- Xerém. Em cumprimento à Lei Orgânica, a sede municipal, que figurava no 1º distrito, foi transferida, a partir de 29 de maio de 1991, para o 2º distrito.

A história de Duque de Caxias confunde-se com a dos municípios que lhe são vizinhos. Isso porque, até a década de 1940, Caxias, São João de Meriti e Nilópolis, juntos com Nova Iguaçu, formavam um só município.

A região onde está inserido Duque de Caxias, desde o período da ocupação europeia, teve sua história estreitamente relacionada a da cidade do Rio de Janeiro. Situando-se às margens da Baía da Guanabara, teve seu desenvolvimento ligado à extensa rede hidrográfica que a cortava. Através dos rios, realizava-se o escoamento da produção local e estabeleciam-se os elos de comunicação entre o interior e o litoral, favorecendo a ocupação das cercanias da Guanabara pelo interior serrano.

O povoamento da região pelos portugueses tem início ainda no século XVI, quando foram doadas sesmarias, durante a expulsão dos franceses que haviam invadido a Baía de Guanabara. Um dos agraciados foi Cristóvão Monteiro que recebeu terras, em 1565, às margens do rio Iguaçu, que formaram a Fazenda do Iguaçu, sendo a mesma, mais tarde, adquirida pela Ordem de São Bento do Rio de Janeiro, tornando-se então a mais antiga e importante fazenda localizada na região que hoje constitui o município de Duque de Caxias.

A atividade econômica que incentivou a ocupação da região foi a do cultivo da cana-de-açúcar. O milho, o feijão, a mandioca e o arroz tornaram-se, também, importantes produtos durante esse período e abasteceram a cidade do Rio de Janeiro, assim como a lenha retirada da região.

Já no século XVIII, a relação da urbe carioca com a região da Baixada se estreitou ainda mais, através dos caminhos que ligavam a região das Minas Gerais, quando o eixo econômico do Brasil em sua relação com Portugal, se voltou para o ouro do planalto mineiro. Com a necessidade do escoamento do ouro e o abastecimento da província mineira, a região da Baixada da Guanabara passou a ter importância estratégica, pois se tornou área obrigatória de passagem, por conta de seus rios, bem como pelas estradas que foram abertas através das serras para que o trânsito de mercadorias se desenvolvesse. O Caminho Novo do Pilar, aberto devido às necessidades oriundas da mineração, entre elas a de se abrir um caminho rápido, econômico e seguro, que ligasse o Rio de Janeiro à região das Minas Gerais, intensificou as relações daquela cidade com os portos do Pilar, Estrela e Iguaçu.

Estação Ferroviária de Merity (anos 20)

Apesar da decadência da mineração, a região manteve-se ainda como ponto de parada e abastecimento de tropeiros, assim como local de passagem de mercadorias. Até o século XIX, o desenvolvimento das áreas no entorno da Guanabara foi notável. Entretanto, a devastação das matas, o assoreamento e obstrução dos rios e, consequente, transbordamento destes, favoreceram o surgimento de epidemias de doenças endêmicas da região, como a malária e o cólera.

Em meados do século XIX, Merity, área do atual 1º distrito de Duque de Caxias, representava apenas um ponto de escoamento de poucos produtos, dentre os quais a lenha e o carvão vegetal. Até meados do século XX, a área que corresponde ao município era uma área periférica que sofreu o impacto de algumas propostas de saneamento no início do século, mas que, no entanto, passou por um processo de ocupação desordenado, facilitado pela Estrada de Ferro Leopoldina Railway.

A recuperação de Merity começou a se insinuar com o advento da estrada de ferro, que ditava novos traçados nos caminhos, modificando por completo as relações comerciais e a ocupação do solo. Foi o início do processo de surgimento de vilas e povoados que se organizaram em torno das estações ferroviárias, origem dos muitos bairros das nossas cidades atuais. Quando a ferrovia atingiu o vale de Merity, a região começou a sofrer os efeitos da expansão urbana da cidade do Rio de Janeiro. Com a inauguração da Estrada de Ferro Leopoldina, em 23 de abril de 1886, a localidade ficou definitivamente ligada ao antigo Distrito Federal.

Caxias vista do Centro (anos 1930)

No início do século XX, as terras da Baixada serviram para aliviar as pressões demográficas da cidade do Rio de Janeiro. Os dados estatísticos revelam que, em 1910, a população da área mais central de Merity era de menos de 1.000 pessoas, passando em 1920, para 2.920, e em 1930, para 28.756 habitantes. O rápido crescimento populacional provocou o fracionamento e loteamento das antigas propriedades rurais, naquele momento, improdutivas.

A partir dos anos 1930, durante a Era Vargas, o território do atual município de Duque de Caxias experimentou intensivo processo de remodelação de sua área, incorporando-se ao modelo urbano-industrial. O desenvolvimento pelo qual passava Merity levou o Deputado Federal Dr. Manoel Reis a propor a criação do Distrito de Caxias. Dessa forma, através do Decreto Estadual nº 2.559, de 14 de março de 1931, o Interventor Federal Plínio Casado elevou o local a 8º Distrito de Nova Iguaçu.

Os anos 1940 encontraram o Distrito com uma população que já atingia a casa dos 100.000 habitantes. Em 31 de dezembro de 1943, através do Decreto Lei nº 1.055, foi criado o Município de Duque de Caxias, porém somente em 1947, foi eleito o primeiro Prefeito por voto popular, tendo a Câmara Municipal sido instalada no mesmo ano.

A professora Tânia Amaro é pós-doutoranda em História pela UFRRJ. Doutora em Humanidades, Culturas e Artes e Mestre em Letras e Ciências Humanas pela Unigranrio. Licenciada e Bacharel em História pela UERJ, com especialização em História das Relações Internacionais pela mesma Universidade. Docente da rede estadual de ensino. Autora de vários artigos e livros relacionados à História Local e Regional. Integra como historiadora a Comissão para os Bens Culturais e Artes Sacras da Diocese de Duque de Caxias. Diretora do Instituto Histórico da Câmara Municipal de Duque de Caxias.

E-mail: taniaamaroalmeida@gmail.com  

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