Por Isabelle Brenda
Quantos blocos carnavalescos são necessários para formar uma escola de samba campeã? No caso da Acadêmicos do Grande Rio inicialmente foram quatro, mas foi necessário muita articulação posteriormente! Nos anos 1970, o desejo de criar uma agremiação que pudesse representar o município de Duque de Caxias na Sapucaí levou os dirigentes das escolas de samba Cartolinha de Caxias, Capricho do Centenário, Unidos da Vila São Luiz e União do Centenário a unirem forças. Assim, nasceu a Grande Rio, em 10 de maio de 1971.
História da Escola de Samba Acadêmicos do Grande Rio
Até o fim da década de 1960, todos os anos pareciam iguais: Duque de Caxias, uma cidade tão potente, assistia ao carnaval acontecer na cidade vizinha, o Rio de Janeiro. Era hora de entrar na festa também.
Milton Perácio, um apaixonado pelo samba, tratava a fundação de uma escola como projeto de vida. Enquanto esse sonho não se concretizava, liderava o badalado Bloco do China.
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As agremiações mencionadas no início do artigo – Cartolinha de Caxias, Capricho do Centenário, Unidos da Vila São Luiz e União do Centenário – promoviam carnavais modestos. O cenário mudou quando Perácio articulou a fusão dessas quatro agremiações, criando a Grande Rio, ainda sem o “Acadêmicos” no nome. As cores escolhidas para representar a escola refletem o clube do coração de seu fundador: verde, vermelho e branco, inspirados no Fluminense.
Em 1988, um novo grupo surgiu para fundar outra agremiação que representasse Duque de Caxias. Para a filiação à Associação das Escolas de Samba da Cidade do Rio de Janeiro (AESCRJ), era necessário que a escola já tivesse origem como bloco carnavalesco. Por isso, foi utilizada a estrutura jurídica do bloco Unidos do Lambe Copo, localizado na Prainha, em Caxias. O bloco havia competido pela última vez na Federação de Blocos em 1979.
Infelizmente, a escola não prosperou de imediato. O próprio Perácio admite: “A gente passava vergonha”, chegando a depender de instrumentos emprestados. Ele reconhecia que era preciso mais estrutura. Seis meses após a fundação da Acadêmicos de Duque de Caxias, em 22 de setembro, Perácio encontrou uma nova solução. Convenceu os amigos Jayder Soares e Helinho de Oliveira a apostarem em uma fusão, que deu origem a Acadêmicos do Grande Rio.
Finalmente, Duque de Caxias passou a ter autoestima e orgulho de seu samba no pé. Perácio relata sua satisfação ao ver a comunidade empoderada, atraindo artistas como Susana Vieira, David Brazil, Ana Furtado e Paolla Oliveira. Ele também relembra o início de grandes talentos: “A Squel começou aqui com a gente” – a porta-bandeira campeã dos carnavais de 2016 e 2019, e atual defensora da Portela.
A caçula das gigantes do samba se orgulha de sua base: a Pimpolhos, escola mirim, comprova a força da comunidade. Hoje, os ensaios na Avenida Brigadeiro Lima e Silva, no bairro 25 de Agosto, arrastam multidões. A quadra, na Rua Wallace Soares, tornou-se um epicentro cultural de Duque de Caxias.
Conquistas de destaque
Em 1989, a Acadêmicos do Grande Rio fez sua estreia com o enredo O Mito Sagrado de Ifé, de Licinho e Nilson Kanema, conquistando a segunda colocação e garantindo vaga no grupo principal no ano seguinte.
Além disso, a escola obteve alguns vice-campeonatos: 2006, 2007, 2010 e 2020.
O primeiro título no Grupo Especial veio em 2022, com o samba-enredo Fala, Majeté! Sete Chaves de Exu, composto por Gustavo Clarão, Arlindinho Cruz, Igor Leal, Cláudio Mattos, Jr. Fragga e Thiago Meiners. O desfile buscou desmistificar Exu, uma das principais entidades de matriz africana.
Relembre todos os sambas-enredo da Grande Rio:
- 1989 – O Mito Sagrado de Ifé;
- 1990 – Porque sou Carioca;
- 1991 – Antes, durante e depois, o despertar do homem;
- 1992 – Águas Claras para Um Rei Negro;
- 1993 – No Mundo da Lua;
- 1994 – Os Santos que a África não viu;
- 1995 – História para Ninar um Povo Patriota;
- 1996 – Na Era dos Felipes o Brasil era Espanhol;
- 1997 – Madeira-Mamoré, a volta dos que não foram, lá no Guaporé;
- 1998 – Prestes, o cavaleiro da esperança;
- 1999 – Ei, ei, ei, Chateau é nosso rei!;
- 2000 – Carnaval à vista – não fomos catequizados, fizemos Carnaval;
- 2001 – ‘Gentileza X’ – O Profeta do Fogo;
- 2002 – Os Papagaios Amarelos nas terras encantadas do Maranhão;
- 2003 – O Nosso Brasil que Vale;
- 2004 – Vamos Vestir a Camisinha Meu Amor;
- 2005 – Alimentar o Corpo e a Alma faz Bem;
- 2006 – Amazonas, o Eldorado Aqui;
- 2007 – Duque de Caxias, o Caminho do Progresso, o Retrato do Brasil;
- 2008 – Do Verde de Coari, vem meu gás, Sapucaí;
- 2009 – Voilá, Caxias! Para sempre liberté, egalité, fraternité, merci beaucoup, Brésil! Não tem de quê!;
- 2010 – Das Arquibancadas ao camarote número 1, um grande rio de emoção, na apoteose do seu coração!;
- 2011 – Y-Jurerê Mirim – A Encantadora Ilha das Bruxas (Um conto de Cascaes);
- 2012 – Eu Acredito em Você. E Você?;
- 2013 – Amo o Rio e vou à luta: ouro negro sem disputa… Contra a injustiça em defesa do Rio;
- 2014 – Verdes olhos de Maysa sobre o mar, no caminho: Maricá;
- 2015 – A Grande Rio é do Baralho!;
- 2016 – Fui no Itororó beber água, não achei. Mas achei a bela Santos, e por ela me apaixonei…;
- 2017 – Ivete do rio ao Rio!;
- 2018 – Vai para o trono ou não vai?;
- 2019 – Quem nunca? Que atire a primeira pedra…;
- 2020 – Tata Londirá: O Canto do Caboclo no Quilombo de Caxias;
- 2022 – Fala, Majeté! Sete Chaves de Exu.
- 2023 – Ô Zeca, o pagode onde é que é? Andei descalço, carroça e trem, procurando por Xerém, pra te ver, pra te abraçar, pra beber e batucar
- 2024 – Nosso Destino É Ser Onça
O GRES Acadêmicos do Grande Rio traz para a avenida temáticas que exaltam a cultura brasileira e promovem reflexões sobre a sociedade. Além disso, enche de orgulho os moradores de Duque de Caxias e toda a Baixada Fluminense.
Para o Carnaval 2025, podemos esperar muitas surpresas com o enredo Pororocas Parawaras – As águas dos meus encantos nas contas dos curimbós, que promete abordar manifestações culturais afro-brasileiras, como o tambor de mina, um ritual de fé e encantaria que cultua orixás, caboclos e voduns. Originário do Maranhão, o tambor de mina também é marcante na cultura paraense. Será que vem mais um título?
Fonte: https://www.academicosdogranderio.com.br/
Isabelle Brenda é nascida e criada em Duque de Caxias. Formada em História pela UFRJ, pesquisa sobre História da Imprensa no Rio de Janeiro no século XX. Atualmente, trabalha como supervisora de pesquisa no IBGE.