O rapper e pesquisador Dudu de Morro Agudo lança seu mais novo videoclipe “Reflexões que Ainda Me Tiraram o Sono” no dia 26 de outubro, a partir das 18 horas, no Quilombo Enraizados, sede do Instituto Enraizados, em Morro Agudo, Nova Iguaçu. O evento é uma celebração que reúne amigos, fãs e membros da comunidade para prestigiar seu trabalho e assistí-lo dar mais um passo importante em sua carreira artística com a música, composta como parte de seu doutorado em educação na UFF, que vai além do hip hop tradicional.
Inspirada nos princípios do psicólogo russo Lev Vygotsky, a partir da aula Psicologia da Arte, ministrada pela professora Zoia Prestes (filha de Luís Carlos Prestes), a canção trata do racismo estrutural na sociedade brasileira de maneira profunda e pedagógica. A direção geral é assinada pela Hulle Brasil, com a direção de fotografia de Higor Cabral e montagem e edição de Josy Antunes – ambos, também, crias da Baixada. O fato inusitado fica por conta da legenda que, além de português e inglês, no clipe também ganha uma versão em russo.
Na ocasião, outro lançamento também acontece para abrilhantar ainda mais a noite: o documentário “Mães do Hip Hop – 15 Anos Depois”. “Mães do Hip Hop”, um curta-metragem lançado pela primeira vez em 2010, dirigido por Dudu de Morro Agudo e Janaína Oliveira, também conhecida como “Refém”, narra a trajetória de cinco MCs: Dudu de Morro Agudo, Kall, Átomo Pseudopoeta, Léo da XIII e Lisa Castro. Embora o foco inicial fosse o envolvimento desses rappers com o hip hop, o documentário se aprofunda em um aspecto central: a visão das mães sobre a criação de filhos que se dedicam à cultura hip hop.

Ao trazer essa perspectiva, o filme aborda temas como gênero, raça, luta de classes, educação e saúde, indo além da arte e oferecendo um retrato completo e sensível da vida dessas famílias. O olhar das mães revela a complexidade de criar filhos em meio a desafios sociais e culturais da Baixada Fluminense, tornando o filme uma obra única. Agora, 15 anos depois, o Átomo decidiu revisitar o documentário e as histórias dos personagens, esse novo filme conta a trajetória desses artistas e suas mães ao longo do tempo desses 15 anos. Todos os MCs se tornaram pais nesse período, alguns continuaram na música, enquanto outros tomaram novos rumos em suas vidas, e infelizmente a mãe de Átomo faleceu há cerca de dois anos.
As novidades de Dudu e seu Quilombo, como é afetivamente conhecido o Instituto Enraizados, não param por aí. O filme e o videoclipe da música “Reflexões que ainda me tiram o sono” também serão exibidos em 3 de março na Carolina do Norte, nos Estados Unidos. Esse momento marca uma importante celebração da cultura hip hop e da luta coletiva de toda uma geração.
A programação do sábado (26/10) inclui uma série de atrações que refletem a forte conexão de Dudu com sua família e sua arte. O encontro também conta com uma intervenção poética de Duduzinho, seu filho caçula, de apenas sete anos, que já demonstra talento na arte das palavras. Sua filha, Imperatriz, também terá um papel de destaque, atuando como DJ residente da festa, comandando a trilha sonora para animar o público. O ponto alto da noite é o pocket show do próprio Dudu de Morro Agudo, oferecendo uma performance intimista e poderosa para marcar o lançamento do videoclipe.
Dudu conta um pouco sobre essa nova etapa e destaca alguns pontos recorrentes ao longo da carreira.
”O processo de criação da música ‘Reflexões que ainda me tiram o sono’ foi profundamente intenso e colaborativo, resultado de uma pesquisa minuciosa, não apenas sobre a concepção artística da música, mas também sobre as microagressões que as pessoas pretas enfrentam ao longo de suas vidas. Durante a composição, houve uma reflexão intensa sobre essas agressões, que minam a energia da população preta de forma constante. Para mim, o mais significativo foi reunir amigos e amigas, também pessoas pretas, para debater como o racismo nos atravessa no dia a dia. O foco não foi apenas nas manifestações explícitas de racismo, aquelas que chegam à mídia, mas sim as pequenas agressões cotidianas que muitas vezes são ignoradas ou subestimadas. Esse racismo silencioso é devastador e merece ser discutido e combatido. A colaboração nesse processo foi crucial, tanto na música quanto no videoclipe, e acredito que tocarão profundamente as pessoas pretas. Espero que a música inspire reflexões e mobilize lutas antirracistas, mostrando que essa é uma batalha que precisa ser assumida por todos”, destaca o multiartista.

Flávio Eduardo da Silva Assis, mais conhecido como Dudu de Morro Agudo, é uma figura influente na intersecção entre hip hop, educação e empreendedorismo social. Nascido e criado em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, aos 45 anos, Dudu é rapper, educador popular, documentarista e pesquisador. Sua trajetória de mais de 30 anos no hip hop o levou a se destacar não apenas como um artista, mas também como um intelectual engajado e um empreendedor dedicado à transformação com impacto social. É fundador e diretor do Instituto Enraizados, uma organização que atua como um espaço de desenvolvimento criativo e cultural para jovens das periferias urbanas desde 1999. O instituto oferece formação para jovens artistas, promovendo oficinas, shows, eventos culturais e atividades educativas, com o objetivo de empoderar e emancipar a juventude negra e periférica.
Trajetória artística retrata talento desde os anos 90
Dudu começou sua carreira no hip hop no início dos anos 90, quando o movimento ainda estava em expansão no Brasil. Desde então, ganhou destaque no cenário nacional utilizando o rap como ferramenta para amplificar questões sociais e raciais. Sua música, na maior parte das vezes explora temas como desigualdade, racismo, resistência e a realidade das periferias, sempre com uma abordagem crítica e reflexiva.
Ao longo de sua carreira, Dudu acumulou grandes conquistas. Foi campeão mundial de hip hop nos Estados Unidos em 2015; dirigiu documentários como Mães do Hip Hop e o Custo da Oportunidade, entre 2010 e 2017; é autor do livro Enraizados: os híbridos globais (2010); e apresentou-se em eventos de grande porte, como o Rock in Rio 2019, levando suas rimas para o palco de um dos maiores festivais de música do mundo. Seu compromisso com o hip hop é profundo, não apenas como música, mas como uma forma de ativismo e transformação social.
Um rapper acadêmico e empreendedor? Sim, TEMOS
Paralelamente à carreira artística, Dudu de Morro Agudo investiu na sua formação acadêmica. Dudu é mestre e, atualmente, doutorando em educação pela Universidade Federal Fluminense (UFF), na linha de pesquisa Estudos do Cotidiano da Educação Popular. Suas pesquisas acadêmicas são uma extensão de sua atuação no hip hop: Dudu explora como a música, em especial o rap, pode ser usada como atividade pedagógica e de formação política para jovens da periferia. Sua pesquisa é fortemente influenciada por autores como Leda Maria Martins, Paulo Freire, Frantz Fanon, bell hooks e Michel de Certeau, e seu foco é mostrar que a arte tem um papel fundamental na educação crítica. Seu trabalho acadêmico busca quebrar as barreiras entre academia e cultura popular, demonstrando que o conhecimento produzido nas margens pode ter um impacto profundo no desenvolvimento social e na educação formal.
O RapLab, metodologia que provoca a produção do conhecimento em rede através do rap, foi estudada pela Duke University no projeto Hip Hop Pedagogies: education for citizenship in Brazil and the United States, nos anos de 2023 e 2024, onde a metodologia foi implantada em escolas da Carolina do Norte, pela professora “Kisha N. Daniels” e seus alunos da graduação.

Em 2024, Dudu de Morro Agudo atua como um dos coordenadores do projeto “Activism, Culture and Education for Citizenship in Brazil and the U.S.”, uma parceria entre o Instituto Enraizados, a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), a Duke University e a North Carolina Central University (NCCU). O projeto de pesquisa é focado no comportamento e desenvolvimento da população de Morro Agudo, principalmente do entorno onde o Enraizados está situado, na zona eleitoral 159, com o objetivo de compreender as dinâmicas sociais e culturais da região. Em 2025, seis integrantes do Instituto Enraizados participarão de um congresso na Carolina do Norte, como parte dessa colaboração internacional, para mostra de resultados.
Dudu também é CEO da startup social Hulle Brasil, que trabalha como um hub criativo de música, produção cultural e agenciamento de artistas, criando novas oportunidades para talentos emergentes e promovendo o empreendedorismo cultural.
Legado e impacto
Dudu de Morro Agudo representa o imagético dinâmico do ser artista. É um intelectual que utiliza sua arte e conhecimento acadêmico para transformar realidades e impactar jovens periféricos. Sua trajetória o coloca como um importante nome quando se trata de unir hip hop e educação em prol da justiça social. Com uma carreira que transita entre o palco e a sala de aula, Dudu continua a inspirar e a educar, promovendo uma visão de mundo onde a arte é parte fundamental do desenvolvimento humano. Seus projetos, como o RapLab, o CPPEC e o Curso Popular Mãe Beata de Iemanjá, refletem sua crença de que a música e o conhecimento podem empoderar e emancipar indivíduos e transformar comunidades inteiras.
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