Por Bernardo Carapiá
A Lenda de Candyman é um filme de 2021, dirigido por Nia DaCosta e que está disponível para aluguel. Essa indicação funciona mais de forma dupla, com o filme O mistério de Candyman (1992) dirigido por Bernard Rose, que está disponível no telecine. Existem outros filmes sobre o personagem, porém os que mais importam são esses dois. Inclusive diria que o novo longa funciona de forma independente, mas acho que a abordagem e certas questões temáticas ecoam mais forte a partir do conhecimento da primeira obra cinematográfica.
O primeiro filme é sobre a estudante Helen Lyle (Virginia Madsen) que decide fazer um estudo sobre lendas, a partir da investigação de uma que surge dos subúrbios de Cabrini Green sobre o serial killer, Candyman, um homem com um gancho no lugar da mão, que aparece após uma pessoa falar o seu nome 5 vezes em frente ao espelho.
Anos depois dos acontecimentos do primeiro longa, o novo fala sobre o retorno da lenda pela ótica do artista Anthony Mccoy (Yahya Abdul-Mateen II) que começa um novo projeto artístico sobre o serial killer, assim o invocando.
Pelo conteúdo explicitamente político e a natureza do terror, principalmente pelo subgênero do slasher (que são esses filmes sobre serial killers, como “Sexta-Feira 13”, “Halloween”, entre outros), consegue manter uma caraterística entre os dois filmes, que é uma das coisas que mais gosto, sendo as imagens bem fortes com uma integração tanto no seu sentido gráfico como político.
Para esse efeito, os cenários e seus espaços representam muito. Percebemos isso no primeiro longa, no começo com Helen, a mulher branca e loira, com um olhar cínico sobre as lendas do lugar, entrando no gueto, um ambiente dominado pelos negros, e muito mais precários, com os grafites também sendo uma importante manifestação cultural do local. Para depois, no seu espaço dos prédios, ambientes limpos e luxuosos, ser perturbada por essa respectiva figura que era descrente, um homem negro com um gancho na mão, arruinando sua vida, com um banho de sangue.
A forma como Bernard Rose impõe uma aura sobrenatural ao serial killer, com ele invadindo as cenas e atrapalhando a vida da Helen com seus assassinatos brutais, dá a ele um tom muito mais representativo do que de concreto, reforçando sua força como ficção e poder de resistência cultural, principalmente quando conta sua origem, dando o seu caráter histórico e assim sua simbologia como uma vingança dos oprimidos contra os opressores.
Agora, seu retorno contém as mesmas características, porém modernizadas. Antes o ambiente, que era de segregação, virou de gentrificação. E agora com uma direção ainda mais estilizada reforça a história como legado e, justamente através do artista, demonstra sua simbologia como sempre propenso a voltar e atualizar seu significado e função de resistência.
Quer ver mais dicas sobre filmes, séries e livros sobre política? Siga as redes sociais do BAIXADA POLÍTICA (Facebook, Instagram, Tik Tok e LinkedIn). Toda sexta-feira uma sugestão nova para você!