O dia em que Pinah fez o Rei Charles III cair no samba

Em uma noite de 10 de março de 1978, a história do samba ganhou um capítulo inusitado e inesquecível. Durante um evento no Palácio da Cidade, no Rio de Janeiro, o então príncipe Charles, hoje Rei Charles III, teve sua experiência com o carnaval carioca marcada pela energia e charme de Maria da Penha Ferreira Ayoub, mais conhecida como Pinah, a jovem passista da Beija-Flor de Nilópolis que o ensinou a sambar.

A cena, que percorreu o mundo, começou como uma surpresa até mesmo para Pinah. Aos 18 anos, ela e outras passistas estavam ali para exibir o brilho do samba, mas jamais imaginaram que o ilustre visitante, envolto em protocolos da realeza, se aproximaria para dançar. 

Foto: Getty Images

“Nós brincávamos entre nós, dizendo quem seria a ‘Cinderela’ da noite, mas tudo parecia tão distante. Quando aquele homem surgiu tentando dançar algo que parecia um Charleston, nem percebi que era ele. Só fui saber no dia seguinte, quando minha mãe me acordou falando que a casa estava cheia de repórteres”, revelou Pinah em uma entrevista na época.

A jovem, que cresceu em Barão de Monte Alto, Minas Gerais, trilhou um caminho único até aquele momento icônico. Modelo, formada em contabilidade e apaixonada pelo samba, começou nos concursos de fantasias, que a levaram às escolas de samba. Pinah fez sua estreia na Em Cima da Hora, passou pelo Salgueiro — onde desfilou ao lado do lendário Joãosinho Trinta nos desfiles campeões de 1974 e 1975 — e, em 1978, estava ainda recém-chegada à Beija-Flor de Nilópolis, sua escola de coração.

Foto: Antônio Nery

Foi essa combinação de experiência, talento e carisma que conquistou Charles, encantado pelo ritmo e pela espontaneidade da passista. A dança se tornou uma cena emblemática, misturando o glamour da realeza com a alegria do samba. Naquele momento, Pinah não era apenas uma passista; era a personificação do espírito do carnaval, capaz de romper barreiras culturais e transformar um evento formal em uma celebração genuína.

Para Pinah, o samba sempre foi mais do que dança: é uma expressão de vida. E naquela noite, com Charles arriscando seus passos ao lado dela, o mundo conheceu um pouco mais da magia e da força que o carnaval carioca tem. O que poderia ter sido apenas um protocolo diplomático se tornou uma das imagens mais marcantes da relação entre o Brasil e a realeza britânica, graças a uma jovem passista que, sem saber, fez história.

Capa da revista Veja de 16 de fevereiro de 1983

Pinah seguiu sendo uma figura destacada no mundo do samba e na Beija-Flor, levando consigo a lembrança de uma noite que atravessou fronteiras e mostrou, mais uma vez, o poder universal da cultura brasileira.

Acompanhe o BRAVA nas redes sociais (Instagram, Youtube, Facebook, TikTok, X e LinkedIn).

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *