Arte da Política | Cabeça de Nêgo (Filme)

Por Bernardo Carapiá

Cabeça de Nêgo é um filme de 2020, dirigido por Déo Cardoso, lançado este ano nos cinemas e agora disponível no Globoplay.

No longa, acompanhamos a trajetória de Saulo (Lucas Limeira), um aluno que sofre um insulto racista de outro estudante de sua classe e reage a ele, sendo punido com a expulsão de sala. Para resistir a essa agressão, ao invés de sair da escola, ele escolhe continuar e enfrentar aquela situação, denunciando o problema existente e gerando uma mobilização cada vez maior.

O filme sofre críticas pela sua narrativa didática, o que é um fato. Mas acredito que como retrato de um conflito estrutural, a forma como a trama é conduzida, a exposição dos personagens, suas referências, a maneira explícita de demonstrar o conflito, o conjunto da obra em geral, gera uma frontalidade que mobiliza fortemente o espectador.

Assim, essa estética explícita constrói a visão do diretor para esses problemas e seu enfrentamento junto com toda uma bagagem cultural que já serve de referência para pensar no Brasil.

Assim, essa abordagem explícita, monta a visão do diretor para esse problema, seu enfrentamento e o mapeamento de uma bagagem cultural que serve de referência para pensar o Brasil.

Um dos momentos mais marcantes dessa exposição é uma cena com Saulo lendo um livro dos Panteras Negras, em sua sala, com uma projeção não diegética de fundo, mostrando vários ativistas negros importantes como Ângela Davis, Malcolm X, Fred Hampton, Nelson Mandela e outras, tudo ao som de “Sorrisos e Lágrimas”, do Emicida.

É interessante também ver as estruturas de poder, da forma como são concebidas por esses pensadores, serem refletidas em um universo micro, como a escola. Aliás, o colégio é um exemplo de atuação dessas estruturas de poder. Ao invés de atender às exigências dos alunos, usa seus meios coercitivos para combatê-los, difamando suas imagens pela mídia, com a anuência de profissionais de cargo elevado de dentro das próprias instituições.O clímax caótico a uma outra referência, agora cinematográfica, Spike Lee, transitando do confronto entre os policiais e os estudantes no filme, para gravações reais desses tipos de confrontos em manifestações. Sugere a dúvida sobre a serventia das instituições, a quem elas servem de fato e, portanto, sua visão revolucionária de reformulação completa delas, para instituições que atendam a vontade das pessoas.

Quer ver mais dicas sobre filmes, séries e livros sobre política? Siga as redes sociais do BAIXADA POLÍTICA (FacebookInstagramTik Tok e LinkedIn). Toda sexta-feira uma sugestão nova para você!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *